Dom Alberto Valencia Apaza: Guardião das Memórias da Comunidade Boliviana em São Paulo

Centenas de milhares de histórias, um legado de imagens captadas pelo ícone da fotografia boliviana no Brasil — A trajetória de Dom Alberto revelada em entrevista realizada em 28 de novembro de 2011, na cidade de São Paulo.

Publicado • 28/11/11 às 14:52h
Atualizado • 19/11/11 às 21:55h

De olhar atento, poucas palavras e uma expressão sempre concentrada, Dom Alberto Valencia Apaza, ou simplesmente Dom Alberto, é um dos pilares da história boliviana em São Paulo. Aos 74 anos e com quase meio século de dedicação à fotografia, ele eternizou momentos que revelam a alma da comunidade boliviana na capital paulista. Hoje, sua câmera não é apenas uma ferramenta de trabalho, mas uma extensão de sua própria identidade.

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A Jornada de La Paz a São Paulo

A história do “paceño” Dom Alberto começa em um pequeno povoado nos arredores de La Paz, onde nasceu em uma família humilde. Aos 21 anos, ele decidiu deixar tudo para trás em busca de novas oportunidades no Brasil. Em 1962, chegou a São Paulo, a terra da garoa, trazendo consigo a determinação e o sonho de construir uma vida melhor.

Seu primeiro emprego, longe do estereótipo da costura que marca a trajetória de muitos imigrantes bolivianos, foi na rede de padarias Benjamim Abrahão. Durante seis anos, Alberto trabalhou entre pães e cafés, até que o destino o levou à fotografia. Foi um amigo, Valentim, quem abriu as portas para sua nova profissão. Antes de retornar definitivamente à Bolívia, Valentim vendeu sua câmera a Dom Alberto, que, mesmo sem experiência, aceitou o desafio.

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Os Primeiros Cliques no Museu do Ipiranga

Com coragem e um equipamento básico, Dom Alberto foi até o Museu do Ipiranga, um dos pontos turísticos mais visitados da cidade na época. Lá, ele encontrou turistas ávidos por lembranças fotográficas e um mercado promissor. Foi nesse cenário que começou a construir sua carreira, que lhe trouxe não apenas reconhecimento profissional, mas também o amor. Em uma manhã de trabalho, conheceu Maria de Carvalho, uma baiana com quem se casou e teve seis filhos.

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A Praça Kantuta e o Acervo de uma História

Desde 1978, Dom Alberto passou a frequentar os encontros da comunidade boliviana em São Paulo, registrando festas, celebrações religiosas e eventos sociais. Atualmente, ele é uma figura icônica na Praça Kantuta, ponto de encontro dos bolivianos na cidade. Aos domingos, ele organiza sua barraca, onde exibe e vende fotos de eventos como a Alasita, tradicional festa boliviana que celebra Ekeko, o deus da abundância.

Seu trabalho não se limita a eventos comunitários. Ao longo dos anos, Dom Alberto também registrou batismos, casamentos, formaturas e cerimônias formais. Fotografou personalidades como Marta Suplicy e Mário Covas em eventos institucionais, mas é nos rostos anônimos da comunidade que reside sua verdadeira paixão. “Amo o que faço, a diversão é consequência”, diz ele com simplicidade.

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Guardião de Memórias

Em sua casa no bairro de Santa Cecília, Dom Alberto guarda um acervo histórico impressionante. São milhares de fotos que narram a trajetória dos bolivianos em São Paulo, uma história de luta, celebração e integração. Sua coleção atrai pesquisadores e estudantes, que encontram em suas imagens um tesouro documental.

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Entre Duas Paixões

Torcedor apaixonado do Clube Bolívar, da Bolívia, e do Corinthians, no Brasil, Dom Alberto também é fã da culinária de ambos os países. Embora não dispense um bom prato boliviano, como “salteñas e pique a lo macho”, ele admite que uma feijoada sempre tem lugar em seu cardápio.

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Legado de Resiliência

A história de Dom Alberto Valencia Apaza é mais do que a de um fotógrafo; é a de um imigrante que construiu um legado cultural e histórico para sua comunidade. Ele não apenas documentou eventos, mas eternizou a essência de um povo em constante transformação.

Contatos para falar com Dom Alberto podem ser feitos pelo telefone (11) 3826-0924. Mais do que um fotógrafo, ele é um contador de histórias, um guardião das memórias de um pedaço da Bolívia em solo brasileiro.

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