A Batida da Resistência: A Saya Afroboliviana Presente na Alma de São Paulo

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Da região de Los Yungas às ruas da capital paulista, a tradição ancestral mantém viva a história de um povo e se torna símbolo de resistência da migração boliviana no Brasil

São Paulo • 20/11/25 às 16:16h
Atualizado • 20/11/25 às 21:16h

Quem passa pela praça Kantuta aos domingos pode se deparar com os ensaio da saya boliviana, uma cena que é pura energia. Tambores reverberam em ritmo cadenciado, saias rodopiam ao som de cantos em espanhol, e vozes poderosas entoam histórias de resistência. Esta é a Saya Afroboliviana, muito mais que uma dança: é a alma de um povo que cruzou fronteiras e encontrou em São Paulo um novo lar para manter viva sua cultura.

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Registro da participação do Grupo – Saya Afroboliviana Integración Bolivia SP Brasil, no Desfile Celebrando a Independência da Bolívia no Sambódromo – 2024 – SP. (Foto: Leonor Hills).

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A história da Saya começa nas profundezas dos Yungas bolivianos, onde comunidades afrodescendentes preservaram suas tradições mesmo durante o período colonial. Seu nome vem do kikongo“Nsaya”, significando “trabajo en común”, trabalho em comunidade. E é exatamente esse espírito coletivo que atravessou os Andes e se instalou no coração da maior cidade brasileira.

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Registro da participação do Grupo – Saya Afroboliviana Integración Bolivia SP Brasil, no Desfile Celebrando a Independência da Bolívia no Sambódromo – 2024 – SP. (Foto: Leonor Hills).

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Do Pequeno Grupo ao Movimento Cultural

Em 2013, um grupo de jovens imigrantes bolivianos, Leucadio Ballivián, Cruz Inofuentes, Fredy Gutiérrez, Adwin Zabala e Edson Landy Sanes, decidem em conjunto que São Paulo precisava ouvir o tambor da Saya. O que começou com seis “cajas” (tambores) trazidos diretamente da Bolívia, hoje o Grupo Saya Afroboliviana Integracion Bolivia Sp Brasil conta com mais de 25 instrumentos e 50 integrantes.

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Registro da participação do Grupo – Saya Afroboliviana Integración Bolivia SP Brasil, no Desfile Celebrando a Independência da Bolívia – 2025 – SP. (Foto: Leonor Hills).
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Registro da participação do Grupo – Saya Afroboliviana Integración Bolivia SP Brasil, no Desfile Celebrando a Independência da Bolívia – 2025 – SP. (Foto: Leonor Hills).

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“Foi em um encontro de amigos, lembro que estávamos com saudades das festas em Los Yungas”, compartilha Leucadio, um dos fundadores. “Decidimos que não podíamos deixar nossa cultura se perder aqui no Brasil. A primeira apresentação foi em um campeonato de futebol, e desde então não paramos mais.”

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Vestimentas que Contam História

As roupas brancas com detalhes vibrantes são um capítulo à parte nesta história. As mulheres usam “polleras” (saias rodadas) com bordados coloridos, blusas com mangas curtas e adornos em zigzag, enquanto os homens complementam o visual com camisas brancas e acessórios tradicionais. Cada peça é uma narrativa visual da resistência cultural afroboliviana.

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Registro da participação do Grupo – Saya Afroboliviana Integración Bolivia SP Brasil, no Desfile Celebrando a Independência da Bolívia no Sambódromo – 2024 – SP. (Foto: Leonor Hills).
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Registro da participação do Grupo – Saya Afroboliviana Integración Bolivia SP Brasil, no Desfile Celebrando a Independência da Bolívia no Sambódromo – 2024 – SP. (Foto: Leonor Hills).

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“Todas as nossas vestimentas são fiéis às origens”, explica Sandy Molina, integrante do grupo há dtrês anos. “Nossos avós dançavam assim em Coroico, e nossos filhos agora dançam aqui em São Paulo. É nossa maneira de manter viva nossa história.”

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Registro da participação do Grupo – Saya Afroboliviana Integración Bolivia SP Brasil, no Desfile Celebrando a Independência da Bolívia – 2025 – SP. (Foto: Leonor Hills).
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Registro da participação do Grupo – Saya Afroboliviana Integración Bolivia SP Brasil, no Desfile Celebrando a Independência da Bolívia no Sambódromo – 2024 – SP. (Foto: Leonor Hills).

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Patrimônio que Une Nações

Reconhecida como Patrimônio Cultural da Bolívia em 2013, a Saya ganhou em São Paulo um novo significado. Não se trata apenas de preservar tradições, mas de construir pontes entre comunidades. O grupo Saya Afro Integração tornou-se referência cultural, participando ativamente das celebrações da independência boliviana e de eventos multiculturais por toda a cidade.

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Para o antropólogo Carlos Mendes, que estuda migrações em São Paulo há uma década, a presença da Saya afroboliviana na cidade é fundamental. “Eles nos lembram que a migração boliviana não é um bloco homogêneo. Há diversidade dentro desta comunidade, e a cultura afroboliviana traz camadas importantes desta história.”

Os ensaios abertos do grupo no Shopping Coimbra têm se tornado ponto de encontro não apenas para bolivianos, mas para todos interessados em conhecer esta rica manifestação cultural. É possível ver brasileiros dançando ao lado de bolivianos, crianças aprendendo os passos de seus pais, e jovens descobrindo suas raízes.

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Registro da participação do Grupo – Saya Afroboliviana Integración Bolivia SP Brasil, no Desfile Celebrando a Independência da Bolívia no Sambódromo – 2024 – SP. (Foto: Leonor Hills).
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Registro da participação do Grupo – Saya Afroboliviana Integración Bolivia SP Brasil, no Desfile Celebrando a Independência da Bolívia no Sambódromo – 2024 – SP. (Foto: Leonor Hills).

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Mais que Dança, Resistência Viva

O que começou como uma saudade transformou-se em movimento cultural. Através do WhatsApp (11) 96439-2926, o Grupo Saya Afroboliviana Integracion Bolivia Sp Brasil 
recebe constantemente novos interessados em aprender sobre a Saya. “Não estamos apenas ensinando passos de dança”, reflete Sandy Molina. “Estamos passando adiante a história de resistência do nosso povo. Cada batida do tambor é uma mensagem de que nossa cultura segue viva, seja nos Yungas ou aqui em São Paulo.”

Enquanto isso, nas ruas paulistanas, os tambores da Saya afroboliviana continuam ecoando, lembrando a todos que a cultura é a mais poderosa forma de resistência, e que São Paulo, em sua imensa diversidade, tornou-se também um pedaço da Bolívia africana.

Fotos: Leonor Hills

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