Mulheres Imigrantes Bolivianas Tecendo Cultura e Resistência na Mooca em Meio ao Bicentenário do País

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Celebração do bicentenário da Bolívia no Museu da Migração destaca o protagonismo feminino na preservação da identidade e na construção de políticas públicas

São Paulo • 14/08/25 às 21:34h
Atualizado • 22/08/25 às 14:22h

O bairro da Mooca, conhecido por abrigar histórias de imigrantes que moldaram São Paulo, foi palco de mais um capítulo dessa narrativa no último domingo (10). No Museu da Migração, um edifício que já foi hospedaria de sonhos e saudades, mulheres da Associação de Mulheres Imigrantes Luz & Vida (AMILV) transformaram o frio do inverno paulistano em calor humano. Com trajes vibrantes, danças tradicionais e sabores que atravessam fronteiras, celebraram os 200 anos da Bolívia, não apenas como uma data, mas como um ato de resistência e orgulho.

Fundada em 2014, a AMILV é liderada por mulheres imigrantes que, longe de serem apenas beneficiárias de políticas públicas, são suas construtoras. Yolanda, uma das coordenadoras, não esconde a emoção ao falar do evento: “Mostramos que a Bolívia não é só um lugar no mapa, mas um pedaço da nossa alma. E isso foi possível porque mulheres qualificadas, muitas delas com formações interrompidas pela migração, se organizaram para ocupar espaços que antes nos eram negados.”

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Da Hospedaria ao Museu: Um Símbolo de Acolhida

O Museu da Migração, instalado no antigo complexo da Hospedaria do Brás, guarda nas suas paredes as marcas de milhões de histórias. Entre 1887 e 1978, recebeu italianos, japoneses, espanhóis e tantos outros que hoje dão à Mooca seu sotaque plural. A escolha do local para a celebração não foi acidental: “Quisemos honrar essa tradição de acolhida e mostrar que a migração boliviana também faz parte da cidade”, explica Carmen, artesã e uma das idealizadoras da exposição.

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O evento, que contou com apoio de grupos folclóricos e instituições de imigrantes, foi além do festivo. Num canto do museu, um painel destacava projetos de mulheres que, mesmo enfrentando duplas jornadas e barreiras linguísticas, criaram a maior rede de mulheres imigrantes criada por imigrantes do Brasil, promovendo o empreendedorismo e construção de políticas publicas no estado de SP. “Não somos vítimas, somos agentes”, resume Lucia, professora do idioma quechua.

‘’Para além da celebração, abrir as portas do Museu da Imigração para comemorar os 200 anos da independência da Bolívia é uma forma de reafirmar o compromisso da instituição em ser um espaço de encontro, pertencimento e reconhecimento das comunidades imigrantes. A cultura boliviana é parte fundamental da formação da São Paulo que conhecemos hoje, refletida no cotidiano e na identidade plural da cidade.’’ afirmou a Diretora do Museu da Imigração, Alessandra Almeida, em nota encaminhada à redação do BC, onde reafirmou o compromisso da instituição com a preservação da memória e a valorização da diversidade.
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Mooca: O Bairro que Aprendeu a Falar em Plural

Enquanto crianças brincavam com “bandeirinhas bolivianas”, moradores antigos da Mooca lembravam como o bairro já foi sinônimo de fábricas e operários italianos. Hoje, é também terra do comercio boliviano, festivais culturais e uma Feira do Imigrante que vira cartão-postal. Aqui, todo mundo tem uma história de luta, e de festa”, ri o aposentado Antonio, descendente de italianos, enquanto prova um “prato da gastronomia boliviana”.

Para as mulheres da AMILV, o domingo foi só o começo. Em setembro, lançam um manual sobre direitos das imigrantes, escrito coletivamente em espanhol, português aymará e quechua. “Queremos que outras mulheres saibam: migrar não é perder raízes, é plantar novas árvores”, diz Yolanda. E a Mooca, com seus tijolos cheios de memórias, parece concordar.

Fotos – Bolívia Cultural

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