Evento fortaleceu os laços culturais da comunidade boliviana com música, dança típica e gastronomia em homenagem às mães
Publicado • 26/05/25 às 00:38h
Atualizado • 26/05/25 às 02:49h
Sob um céu de domingo que alternava entre o sol e a brisa paulistana, a Praça Kantuta, no Canindé, pulsou como um coração boliviano em terras brasileiras. Entre risos em português, espanhol, aimará e quechua, o ar carregava o aroma das salteñas recém-saídas do forno, enquanto o eco das bandas (grupos musicais) se misturava ao girar de polleras – saias tradicionais que rodopiavam em cores vibrantes. Não era apenas mais uma celebração: era a celebração do Dia da Mãe Boliviana, (festejado na Bolívia em 27 de maio) ritual que transforma o asfalto de São Paulo em solo altiplânico, onde mães, muitas vezes invisíveis na metrópole, tornam-se protagonistas de sua própria história.
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Para muitas das mães presentes, a data é mais que uma homenagem: é um ato de resistência. Grande parte delas são mães solo, imigrantes que enfrentam duplos desafios — criar filhos em uma das maiores metrópoles do mundo, muitas vezes sem redes de apoio, enquanto preservam tradições que atravessaram fronteiras. “Aqui, somos nós que sustentamos a família, mas também a nossa cultura”, diz Rosa Mamani, 42 anos, que veio de La Paz há uma década.
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A Praça Kantuta: Um Pedaço da Bolívia em SP
Batizada em homenagem à flor nacional boliviana, a praça é o principal reduto cultural da comunidade no estado de SP, onde cerca de 450 mil bolivianos vivem — a maior diáspora do país no Brasil. Aos domingos, o local abriga a Feira Kantuta, com barracas de comidas típicas, artesanato e cereais. Mas no Dia da Mãe Boliviana, o espaço ganhou contornos ainda mais especiais.
“Essa festa é nossa maneira de dizer: ‘Estamos aqui, e nossas tradições também'”, explica Marcelo Laura, presidente da Associação Feira Kantuta. Neste ano, a programação incluiu desde apresentações de caporales — dança marcada por saltos vigorosos — até brincadeiras com o Palhaço Trompetita, que arrancou risos das crianças e mães.
Ao final, o fresco de mocochinchi (bebida de pêssego) foi servido, e as mães receberam rosas vermelhas. “Somos como a flor kantuta”, afirmou Nelly Burgoa da Óticas La Paz. “Florescemos mesmo longe de nossa terra.”
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Dança, Gastronomia e Prêmios: A Força das Mães
No entorno da praça, grupos folclóricos como os, Caporales San Simón Filial – São Paulo Brasil, Ballet Folclórico Boliviano – São Paulo, Salay Tiraque SP – Brasil, Cambas Raspa Buri – SP Brasil, Salay San Simón Filial SP Brasil, mostraram a riqueza das danças regionais, enquanto famílias se reuniam em torno de pratos como o lechón ao forno e o silpancho. Para muitas mães, porém, o momento mais emocionante foi a entrega de prêmios e reconhecimentos — cestas de guloseimas, eletrodomésticos, flores e muito mais, gesto simbólico de gratidão por seu papel na comunidade.
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Festa para as Gerações
Enquanto o Mariachi Loco (palhaço Trompetita) contagiava o público com seu humor irreverente, arrancando gargalhadas do público presente, pequenos corriam entre as barracas com bexigas coloridas, pintando o ar de alegria. Mais do que uma celebração, testemunhava-se o fechamento de um ciclo histórico: as mães que um dia desembarcaram em São Paulo sozinhas, carregando apenas malas e sonhos, agora viam suas raízes florescerem em solo brasileiro. Cercadas por filhos, netos e amigos, elas não escondiam o orgulho de assistir suas tradições não apenas sobreviverem, mas se reinventarem – seja nos passos de caporales dançados pela nova geração, seja no espanhol misturado ao português que envolvia a praça. A Bolívia, distante no mapa, permanecia viva ali, no coração da maior metrópole da América Latina.