Folha de Coca: Conhecimento e Tradição Além do Preconceito

Loading

Da ancestralidade à desinformação: por que a folha sagrada dos Andes ainda é criminalizada no Brasil?

Publicado • 05/05/23 às 12:30h
Atualizado • 04/08/25 às 17:35h

Há milênios, a folha de coca é parte fundamental da cultura e da medicina dos povos andinos. Mastigada, consumida em chás ou usada em rituais ancestrais, ela é símbolo de resistência e identidade. No entanto, no Brasil, essa mesma folha é tratada como substância ilícita, equiparada à cocaína, um equívoco que persiste devido ao desconhecimento e ao estigma.

.

VERDE

.

A Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) já deixaram claro: a folha de coca não é droga. Seu consumo tradicional não causa danos à saúde, diferentemente da cocaína, substância sintetizada em laboratório a partir de processos químicos agressivos. Enquanto uma é ancestral, a outra é produto do narcotráfico.
.

Google search engine

Por que, então, a folha ainda é proibida?

A resposta está na desinformação. A falta de debate qualificado e a confusão entre a planta natural e seus derivados ilícitos perpetuam uma política proibicionista que ignora a ciência e desrespeita culturas tradicionais. No Peru, na Bolívia e na Colômbia, seu uso é legalizado e até protegido por lei. No Brasil, no entanto, quem carrega um saquinho de folhas pode ser enquadrado na mesma legislação que pune traficantes.
.

Humanizar é entender

Para comunidades indígenas e descendentes andinos no Brasil, a criminalização da folha de coca é uma violação de seus direitos culturais. “É como proibir o chimarrão no Sul ou o açaí no Norte”, explica um líder aimará que prefere não se identificar, por medo de represálias. “Nosso uso é ritualístico, medicinal. Não tem relação com drogas.”

A ciência comprova: a folha possui propriedades nutricionais e estimulantes suaves, ajudando no alívio da fadiga, no controle da fome e até no tratamento de males como o soroche (mal de altitude). Seu potencial farmacêutico é estudado para o desenvolvimento de medicamentos, mas o tabu ainda impede avanços.
.

O caminho para a mudança

Despenalizar a folha de coca não significa abrir espaço para a cocaína. Pelo contrário: é separar o sagrado do ilícito, a tradição do crime. Países como a Bolívia já mostram que é possível regulamentar seu uso sem aumentar o narcotráfico. No Brasil, o debate avança lentamente, mas a educação é a chave.

Enquanto isso, comunidades seguem resistindo, não pelo vício, mas pelo direito de preservar sua história. Como dizem os anciãos andinos a exemplo da Mama Elena: “A folha de coca não é para destruir vidas. É para curá-las.”

Restam perguntas: até quando o Brasil continuará punindo uma planta em nome do desconhecimento? Quando a lei finalmente distinguirá entre tradição e tráfico? A resposta, como a própria folha, pode estar mais perto do que se imagina, basta olhar para além do preconceito.

Google search engine
Google search engine

PUBLICIDADE

Compartilhe esta postagem:

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest
Telegram
WhatsApp
Email
Print
Veja Também