Evento Cultural Peruano Usa Imagem de Dança Boliviana Como Capa de Matéria

Loading

A Dança do Tinku, símbolo da Bolívia, é usada para promover festa peruana em São Paulo; especialistas alertam para apagamento cultural

São Paulo • 29/07/25 às 10:00h

Um evento peruano que celebra os 204 anos da independência do Peru está no centro de uma controvérsia que ultrapassa fronteiras após utilizar, como imagem de capa, uma foto da dança boliviana “Del Tinku” em sua divulgação. A matéria, publicada na renomada revista digital Veja São Paulo, promove o evento Peru: Interculturalidade Solidária – 204 anos, que ocorrerá no próximo domingo (3/8) no Centro Cultural da Penha, na zona leste da capital paulista.
Apesar de oferecer uma programação genuinamente peruana, com comidas típicas, artesanato, apresentações de marinera e cumbia, a escolha da ilustração causou indignação entre bolivianos amantes do folclore, e acendeu um debate sobre desinformação cultural e apropriação indevida de símbolos folclóricos genuinos bolivianos.
.
.

Um Erro com Consequências Globais

Em uma era em que as informações são consumidas rapidamente, o título e a imagem de capa tornam-se a principal, e, muitas vezes, única fonte de conhecimento para o público. Ao destacar o Tinku, dança tradicional nor-potosino boliviano, como se fosse peruana, a publicação reforça um equívoco que pode apagar identidades culturais e perpetuar falsas narrativas.
.

Histórica defesa do Tinku lembra que a luta do legado cultural boliviano deve ser permanente

“É uma falta de respeito com nossa história quando países usam nosso folclore internacionalmente”, declarou Santiago Cruz (12/02/25), presidente do Comitê de Salvaguardia de Ch’utillos, festividade boliviana reconhecida pela UNESCO como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade em dezembro de 2023. “O Tinku nasceu em San Pedro de Macha, no norte de Potosí, e é parte fundamental da nossa identidade. Não podemos permitir que outros países se apropriem disso”.
Sabina Guevara, ministra de Culturas da Bolívia, afirmou em comunicado oficial: “Estamos comprometidos em proteger nossas expressões culturais, que carregam séculos de história e significado. O Tinku não é apenas uma dança, é um ritual ancestral que representa a resistência do nosso povo. Exigimos que países vizinhos e a mídia internacional tratem nosso patrimônio com a devida responsabilidade”. Afirmou em (12/02/25)
A polêmica ganhou repercussão internacional, com usuários das redes sociais acusando a publicação de contribuir para a desinformação cultural. “Isso não é um simples erro. É um apagamento sistemático da cultura boliviana”, escreveu uma ativista cultural.
.
.

A Raiz da Desinformação

O problema, segundo especialistas, reflete um padrão histórico:
1.Falta de Curadoria:
Redações priorizam impacto visual sobre precisão cultural;
2.Generalização Andina:
Mídia trata culturas quéchua e aimará como intercambiáveis;
3.Efeito Dominó:
Erros se replicam – em 2023, um festival no México anunciou “Tinku Peruano”.
Laura Mendes, antropóloga da USP, alerta: “Cada vez que isso acontece, comunidades originárias perdem controle sobre suas próprias narrativas. A internet fossiliza o erro.”
.

A Responsabilidade da Mídia

Especialistas em comunicação alertam que erros como esse, ainda que não intencionais, têm efeitos duradouros. “Quando uma grande revista repete um equívoco desses, ele se torna ‘verdade’ para milhares de leitores”, explica Laura Mendes, antropóloga especializada em culturas andinas. “A Bolívia já luta há décadas para que suas tradições sejam reconhecidas globalmente. Um deslize desses joga contra esse esforço”.
.
Paradoxalmente a comunidade internacional folclórica boliviana, com apoio da ACFIBB realizará em rede internacional o “XIV ENCUENTRO MUNDIAL DE DANZAS 100% BOLIVIANAS”. No Ano do Bicentenário da Bolívia em São Paulo – Brasil.
.
O evento peruano segue em cartaz, mas a discussão sobre ética jornalística e preservação cultural promete durar muito mais.
Google search engine

PUBLICIDADE

Compartilhe esta postagem:

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest
Telegram
WhatsApp
Email
Print
Veja Também