“El Regreso”: O Hino da Saudade que Une Bolivianos pelo Mundo Afora

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Canção de Matilde Casazola se torna símbolo emocional da diáspora boliviana em tempos de globalização

São Paulo • 05/08/25 às 22:43h
Atualizado • 05/08/25 às 23:49h

Em um mundo marcado por histórias de migração, há melodias que transcendem fronteiras e se tornam refúgio para corações distantes da terra natal. Neste ano do bicentenário da Bolívia, “El Regreso”, *cueca icônica escrita pela poetisa e cantautora Matilde Casazola, ressoa como um abraço musical para milhares de bolivianos espalhados pelo globo.

O lançamento oficial do videoclipe, na noite de 3 de agosto, não foi apenas um evento cultural, mas uma cerimônia coletiva de afetos. Produzido pela Rádio Global e Grupo La Razza, com apoio do Ministério de Culturas, Descolonização e Despatriarcalização, o projeto reúne as “Vozes de Ouro do Bicentenário”: Orlando Andia (Llajtaymanta), Esther Marisol, Guísela Santa Cruz, Jorge Poppe (Horizontes), Willy Claure, Jorge Claros (Amaru), Luis Fuño, Carlos Montero e a própria Casazola, em um mosaico de talentos que traduzem a alma musical boliviana.

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Notas que Curam a Distância
A canção, com suas harmonias que oscilam entre a melancolia e a esperança, captura a essência do que significa carregar a Bolívia no peito. Não por acaso, tornou-se viral em comunidades de migrantes, de Buenos Aires a Barcelona, de São Paulo a Sydney, onde versos como “Yo no logro explicar con que cadenas me atas, Con que hierbas me cautivas dulce tierra boliviana…” ganham o peso de promessas silenciosas.

“É como se cada nota fosse um pedaço da nossa terra”, comenta Juan Quispe, operário da construção civil em Madri há 12 anos, enquanto mostra no celular o videoclipe a colegas peruanos e paraguaios. Cenas como essa se repetem em restaurantes, associações culturais e grupos familiares de WhatsApp, onde a música viralizou como código sentimental de uma geração que cresceu entre duas pátrias.

Legado que Renasce
Para a ministra Sabina Orellana, presente no lançamento, a iniciativa “tece os fios da memória com os desafios do presente”. De fato, a produção mescla imagens contemporâneas de dançarinos em El Alto com arquivos raros de Casazola nos anos 1970, criando uma ponte temporal que emocionou até os mais jovens.

“Minha avó me ensinou essa música quando eu tinha 7 anos, em Cochabamba. Hoje, morando na Argentina, entendi por quê”, compartilha a estudante Valeria Mendez, 19, entre lágrimas durante a pré-estreia. São esses testemunhos que confirmam: mais que uma canção, “El Regreso” transformou-se em território afetivo móvel, levado como herança invisível nas malas dos que partiram.

Enquanto o videoclipe ultrapassa 500 mil visualizações, artistas participantes destacam seu caráter geracional: “É a Bolívia cantando para si mesma, em todas as suas idades”, define o maestro Willy Claure. Uma prova de que, em tempos de algoritmos e conexões virtuais, ainda são as notas nascidas da terra que melhor conectam os fios do coração humano.

Matilde Casazola, hoje com 80 anos, acompanhou emocionada a homenagem – talvez sem imaginar que sua criação dos anos 1960 se tornaria, seis décadas depois, o abraço musical de uma nação dispersa pelo mundo.

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*A cueca boliviana é um gênero musical e uma dança de pares, com origens no século XVIII, que se desenvolveu em diferentes regiões da Bolívia, com características próprias em cada uma delas. É considerada um patrimônio cultural imaterial do país. A dança é marcada por movimentos circulares, vueltas e medias vueltas, com o uso de um lenço.

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