“O que há de pior no mundo está vindo para cá”: Declaração de Bolsonaro a imigrantes em 2014 reverbera no presente

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Em entrevista concedida ao repórter boliviano Antonio Andrade, então deputado federal articulou discurso que repercutiria em sua trajetória política; à época, fala causou mal-estar em comunidades estrangeiras

Publicado em 10/01/19 às 12:10h
Atualizado em 30/01/22 às 19:19h

Em uma noite de celebração do centenário do Palmeiras, no Credicard Hall, o clima festivo contrastou com um diálogo de profundo impacto social. O então deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), na noite desta quarta-feira 27/08/14, concedeu uma breve e contundente entrevista ao repórter boliviano Antonio Andrade, do veículo Bolívia Cultural. O tema em pauta era a vulnerabilidade de imigrantes na capital paulista, alvo constante de gangues que invadem lares, roubam e submetem famílias, incluindo crianças e mulheres, a torturas físicas e psicológicas.

O assunto ganhou dramaticidade com o recente caso do menino Brayan, de cinco anos, morto com um tiro na cabeça durante uma dessas invasões. Ao ser questionado sobre como combater essa violência, Bolsonaro, visivelmente irritado e com o rosto avermelhado pela entonação forte de sua fala, defendeu políticas de endurecimento penal. “A gente não vai combater a criminalidade com flores, ok? Eu considero os presídios brasileiros excepcionais, porque lá é o lugar para pagar seu crime, não é para se regenerar”, declarou.

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No entanto, foi ao final da conversa que o parlamentar dirigiu suas críticas aos próprios imigrantes. “O PT dá guarita a todas essas pessoas… nós devemos preservar o Brasil. O que há de pior no mundo está vindo para cá, não só apenas da África, como de aqui na América do Sul, da América Central. Até iranianos agora conseguiram, via Cáucaso, entrada no Brasil sem visto. Ou seja, nós podemos transformar aqui num caos nosso país dado o número de imigrantes que, como eu falo, é o pior que tem lá fora, vai trazer o caos aqui”.

A declaração, proferida em um ambiente social, chegou às redações e a líderes comunitários na manhã da quinta-feira (28), gerando consternação. Para Antonio Andrade, o repórter que ouviu as palavras de perto, a fala foi um balde de água fria. “Busquei um parlamentar para discutir a proteção de uma comunidade que vive com medo. A resposta foi culpar e estigmatizar as próprias vítimas. É difícil explicar isso para as famílias que só buscam uma vida digna”, desabafou Andrade.

A afirmação do deputado é vista por especialistas entrevistados pela reportagem como um marco discursivo. “Em um momento de dor, como o assassinato de uma criança, a resposta não é propor políticas de acolhimento e segurança, mas sim erguer muros retóricos. É uma visão que desumaniza o ‘outro’ e ignora as complexas contribuições dos imigrantes para a economia e a cultura do país”, analisa Isabel Camacho, socióloga peruana formada na FESPSP.

Enquanto isso, nas comunidades bolivianas, haitianas e de outras nacionalidades em São Paulo, a frase de Bolsonaro chega como um lembrete amargo de que, para alguns, sua luta por dignidade é vista não como uma busca por esperança, mas como uma ameaça.

foto – Bolívia Cultural

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