La Saya no Coração de São Paulo: A Cultura Afroboliviana Tecendo Irmandade com o Brasil

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SP acolhe uma pequena mas vibrante comunidade afroboliviana que encontra no Brasil um solo fértil para manter viva sua identidade, unindo as duas nações através do ritmo e da resistência.

São Paulo • 23/09/25 às 11:33h
Atualizado • 23/09/25 às 12:38h

O som dos tambores repercutem com uma cadência ancestral no bairro do Parí, numa praça chamada Kantuta da capital paulista. Não é samba, nem maracatu. É a saya, a expressão musical que carrega na sua batida o coração da Bolívia negra. Aqui, longe das comunidades originárias nos Yungas de La Paz, famílias afrobolivianas perpetuam com orgulho uma cultura que se tornou o elo mais vivo que une a Bolívia ao Brasil, formando um povo irmão transnacional.

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Saya Afro Integración Boliviana, Entrada Folclórica ACFIBB 2025 – Leonor Hills

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A celebração do Dia Nacional do Pueblo Afroboliviano, em 23 de setembro, não passou em branco no Brasil. Foi comemorada com força e emoção por grupos como a Saya Afro Integración Boliviana – SP Brasil (SAIN-BOL). Em encontros que misturam gerações, avós, pais e filhos dançam vestidos com trajes típicos, num cenário que humaniza profundamente a diáspora. A data simboliza mais que uma memória; é um ato de resistência cultural e um reencontro com as raízes em solo brasileiro.

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“É manter viva nossa história para nossos filhos, que nasceram aqui, mas são afrobolivianos no sangue e no espírito”, compartilha o escultor afroboliviano, Clemente Amadeo Loayza Escalante, que a 50 anos mora no Brasil. A perpetuação da identidade acontece nos detalhes: nas receitas passadas de mãe para filha, no ensino dos passos da saya às crianças e no espanhol misturado com o português falado em casa.

Este compromisso com a visibilidade e o fortalecimento da identidade afroboliviana encontra eco recente nas ações do governo boliviano. Em nota oficial, o Estado Boliviano reafirmou seu compromisso de garantir igualdade de direitos e reconhecer o aporte histórico e cultural deste povo. Um passo significativo foi a aprovação pelo presidente Luis Arce do Anteprojeto de Lei do “Segundo Decênio do Pueblo Afroboliviano 2025–2035”, uma iniciativa que busca consolidar direitos e cultura através de políticas públicas articuladas.

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Saya Afro Integración Boliviana, Entrada Folclórica ACFIBB 2025 – Leonor Hills

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A Força da Tradição: Caporal e Morenada Pulsam na Diáspora

Para além da emblemática Saya, outros ritmos de profunda raiz afroboliviana pulsam vibrantes na comunidade imigrante de São Paulo. O Caporal, com sua energia contagiante e passos marcantes, e a Morenada, dança solene que imita o movimento dos escravizados nas minas, são praticados com devoção por milhares de bolivianos.

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Saya Afro Integración Boliviana, Entrada Folclórica ACFIBB 2025 – Leonor Hills

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São os jovens que dão vida ao vigor do Caporal, enquanto famílias inteiras se unem na cadência hipnótica da Morenada. Juntos, eles perpetuam uma herança negra única, uma raiz africana que, ao longo da história, convergiu e se fundiu com as tradições andinas, criando a rica tapeçaria multicultural da Bolívia. Esta data simbólica ganha vida em São Paulo não apenas como uma lembrança, mas como uma celebração ativa que transplantou e faz florescer um folclore boliviano diverso e resistente no coração do Brasil.

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Integração

Enquanto no Brasil a população negra Brasileira (pretos e pardos) constitui a maioria, com 55,5% dos habitantes segundo o Censo de 2022, a comunidade imigrante afroboliviana é numericamente pequena, mas sua atuação cultural em São Paulo é imensa. Ela demonstra que a afrodescendência é um rio com muitos afluentes, e que a força de um povo não se mede apenas em números, mas na profundidade de suas tradições. A saya, portanto, não é apenas um ritmo. É a voz de uma resistência, um abraço musical que une duas nações gigantes em território e diversidade, lembrando a todos que, sob o mesmo sol, a cultura negra é laço de irmandade, afirma a Fraternidade Saya Afro Integración Boliviana – SP Brasil (SAIN-BOL).

fotos – Leonor Hills
foto/capa: BC – Sesc Pinheiros

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