Na Bagagem, o Mundo: Crianças Imigrantes e Brasileiras Contam suas Viagens em Documentário

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Projeto “Viagens e Sonhos”, realizado com o PIÁ na Vila Maria, captura narrativas infantis puras sobre deslocamento, memória e a poesia de descobrir novos lugares e culturas.

São Paulo • 08/09/25 às 22:31h
Atualizado • 08/09/25 às 23:41h

O que uma criança vê de uma janela de avião? Que cheiros e sabores ficam na memória de uma viagem de carro? Como se descreve a sensação de chegar a um lugar completamente novo? Essas perguntas, normalmente feitas por adultos, ganham respostas inesperadas e profundas no (mini)documentário “Viagens e Sonhos”, um projeto que deu voz a um coro singular de crianças, entre imigrantes e brasileiras, da periferia de São Paulo.

O filme é o resultado de um trabalho do PIÁ (Programa de Iniciação Artística) na Vila Maria, zona norte da capital. A proposta da edição, intitulada “Memória Viva, Raízes Ancestrais e Luta por Pertencimento”, era que os pequenos participantes se apropriassem do território exterior e também expressassem seu “território interno”, repleto de afetos, histórias e sonhos.

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Foi desse lugar íntimo que surgiram os relatos que compõem a narrativa. Sem um olhar crítico ou academicista, mas com a amplitude e a sinceridade única da infância, elas falam sobre o que é viajar. As impressões vão muito além de destinos turísticos; são carregadas de visualidade, cultura, sentimento e uma poesia involuntária que só quem ainda decifra o mundo consegue ter.

O destaque fica por conta das crianças filhas de imigrantes. Elas, pequenas desbravadoras de horizontes, trazem na bagagem narrativas que começam em uma mega metrópole como São Paulo e se conectam com o mundo. Suas histórias de viagem, sejam as reais, de retorno aos países de origem de suas famílias, ou as imaginadas, alimentadas pelas memórias dos pais, acrescentam camadas poderosas de diversidade ao projeto. São vozes que humanizam a experiência do imigrante, mostrando-a através dos olhos de quem está construindo sua identidade entre duas ou mais culturas.

O documentário se torna, assim, um mosaico de sotaques e experiências. Uma criança fala da emoção de ver a neve pela primeira vez; outra, do cheiro da comida da vó em outro país; uma terceira, da aventura de uma longa viagem de ônibus. Juntas, suas vozes tecem um painel sobre o que realmente significa se deslocar: não apenas a mudança geográfica, mas a viagem interior, cheia de descobertas, perguntas e a ampliação do próprio universo.

O “Viagens e Sonhos” é mais que um registro; é um convite a ouvir. Um lembrete de que, muitas vezes, a visão mais lúcida e generosa sobre um mundo globalizado e cheio de complexidades pode vir dos que estão começando a entendê-lo.

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Além da Sala de Aula: O Olhar Sensível que Conecta e Transforma

A verdadeira essência do trabalho dos educadores do Programa de Iniciação Artística (PIÁ) vai muito além de projetos e cronogramas, revelando-se nos detalhes invisíveis, mas profundamente sentidos. Mais do que aplicar metodologias, eles tecem diariamente uma rede de afeto e confiança, enxergando em cada criança uma história única, cheia de potencialidades à espera do estímulo certo para florescer.

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Este olhar singular e acolhedor é a força motriz que transcende a arte, elevando-a à categoria de linguagem transformadora de emoções e alicerces. O verdadeiro legado do PIÁ não se avalia em palcos ou mostras, mas ecoa no silêncio confiante de uma autoestima restaurada, no brilho de um olhar que finalmente se reconhece e na ousadia de criar sem barreiras. São sementes de sensibilidade e criatividade plantadas no presente, que florescem não apenas nas crianças, mas em toda a comunidade familiar, estendendo seus ramos para um mundo que clama por mais diversidade e humanidade.

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