Crime de Intolerância Religiosa Expõe Xenofobia Interna e Desrespeito à Cosmovisão Milenar Quechua e Aimará
Publicado • 29/05/25 às 23:26h
Atualizado • 30/05/25 às 12:15h
Intolerância Religiosa Virtual Desvenda Ataque Contra Identidade Ancestral Espiritual da Cosmovisão Andina
Crime previsto por lei desde 1997, perseguição religiosa ainda é de difícil tipificação no Brasil, que também precisa investir mais em educação contra xenofobias.
Um ataque criminoso, carregado de ironia e ódio, manchou as redes sociais na última semana. O alvo? A espiritualidade ancestral dos povos andinos, expressa em um evento cultural organizado pelo Centro Cultural Andino Amazônico (CCAA) no Museu da Imigração de São Paulo. O agressor? Um descendente de bolivianos que, em vez de honrar suas raízes, cuspiu desprezo sobre a cosmovisão que sustenta a identidade de milhões na América do Sul.
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O Ataque: Xenofobia e Intolerância Mascarada de Ironia
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No dia 18 de maio, a boliviana Diana Soliz compartilhou um post celebrando o evento “Sarnaqtanxa: sabedoria e pesquisa indígena andina em São Paulo”, que reuniu imigrantes e brasileiros para fortalecer a cultura andina. A resposta veio em forma de comentários venenosos de um usuário que, apesar de sua ascendência boliviana, ridicularizou a tradição espiritual de seus próprios antepassados:
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• “Grande progresso, do nada ao inútil”
• “Discutir com inúteis é perda de tempo, do nada para o nada kkk”
• “Dou risada, estrada sem rumo, modificando a opinião de quem????”
• “Grande sabedoria e grande construção, vcs são o Máximo” (em tom claramente sarcástico)
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As frases, além de desdenharem da cultura andina, configuram intolerância religiosa – crime previsto na Lei nº 7.716/1989, com pena de um a três anos de reclusão.
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A Cosmovisão Andina Não é “Nada”: É Resistência
A espiritualidade andina, centrada na Pachamama (Mãe Terra), não se enquadra em moldes ocidentais de “religião”, mas é uma cosmovisão milenar que orienta a vida de quechuas, aimarás e outros povos originários. Ridicularizá-la é apagar identidades, algo ainda mais grave quando feito por quem deveria reconhecer sua própria história.
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A Ironia Amarga: O Agressor é Descendente de Imigrantes
O fato de o autor dos comentários ter origem boliviana expõe uma ferida social profunda: a autoaversão xenofóbica, em que indivíduos assimilam o preconceito contra suas próprias raízes. É um fenômeno conhecido em comunidades diaspóricas, mas não menos condenável.
O Brasil Precisa Agir: Lei Existe, Mas Falta Educação e Fiscalização
A Lei nº 9.459/1997 tipifica crimes de intolerância religiosa, mas sua aplicação ainda é frágil. Casos como este mostram que, além de punição, é urgente:
• Educação antixenofóbica nas escolas;
• Campanhas de valorização das culturas indígenas e afro-diaspóricas;
• Maior rigor na moderação de discurso de ódio online.
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Não Há Liberdade de Expressão Para o Ódio
A liberdade espiritual é um direito humano. Quem ataca a fé alheia – seja ela vinculada a uma religião institucionalizada ou a uma cosmovisão ancestral – não está opinando, está cometendo um crime.
Enquanto houver quem ria da Pachamama, do sagrado andino, ou de qualquer outra expressão cultural e religiosa, a sociedade precisará responder com mais do que leis: com vergonha coletiva e ação firme.
Que este caso sirva de alerta – e de motivação para que a intolerância nunca calce a última palavra.