Falta de fiscalização e infraestrutura precária deixam comerciantes e consumidores vulneráveis; tragédia no Brás alerta para riscos em centros comerciais populares dos empreendedores imigrantes.
Publicado • 30/10/24 às 12:29h
Atualizado • 30/10/24 às 15:02h
O incêndio que destruiu o Shopping 25 na região do Brás, em São Paulo, nesta quarta-feira, 30 de outubro de 2024, trouxe à tona questões críticas sobre a segurança e a infraestrutura dos centros comerciais populares. Esse centro é conhecido por abrigar centenas de pequenos empreendedores, muitos deles imigrantes, principalmente bolivianos, que atuam no setor de vestuário e dependem intensamente do movimento comercial. Com as festividades de fim de ano, a tragédia alerta comerciantes, consumidores e autoridades para a precariedade nas normas de segurança da região, onde cresce o comércio sem o devido acompanhamento de normas de prevenção e combate a incêndios.
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Comércio em Expansão, Segurança em Falta
A área do Brás é um polo de comércio que atrai milhares de consumidores diariamente, especialmente nesta época do ano, quando o fluxo de clientes aumenta devido às compras de fim de ano. No entanto, a infraestrutura dos estabelecimentos que atende esse grande público muitas vezes não cumpre com requisitos básicos de segurança. Extintores de incêndio ausentes, fiação elétrica exposta e a ausência de rotas de fuga bem sinalizadas são situações comuns. Em inspeções recentes, foi constatado que inúmeros estabelecimentos não possuem sequer sistemas adequados de combate a incêndio, um fator que agrava o risco de desastres.
Para os lojistas, a questão da segurança, especialmente contra incêndios, é crítica, mas a regulamentação e a fiscalização são insuficientes. Muitos comerciantes são pequenos empreendedores com poucos recursos para investir em adequações que atendam às exigências de segurança, e a falta de um sistema de fiscalização robusto deixa a segurança de consumidores e trabalhadores comprometida.
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Autoridades e Falta de Fiscalização: Um Sistema Sob Pressão
As normas de segurança para centros comerciais exigem rotas de fuga acessíveis, sinalização de emergência e extintores regularmente inspecionados. No entanto, devido ao ritmo frenético de expansão comercial e às construções antigas no Brás, a aplicação dessas normas não é cumprida de forma consistente. Segundo relatos de consumidores e comerciantes, a fiscalização das autoridades é esparsa e, quando ocorre, muitos estabelecimentos são notificados, mas poucas medidas são realmente implementadas para corrigir as deficiências.
A falha no cumprimento das normas não afeta apenas o Shopping 25, mas diversos outros centros comerciais e gastronômicos da região, que compartilham das mesmas vulnerabilidades. Além do risco de incêndio, o acúmulo de lixo nos arredores das lojas e os sistemas hidráulicos precários são outras preocupações. A falta de manutenção e o descaso com a limpeza nos espaços comerciais geram condições insalubres, favorecendo o aumento de insetos e roedores.
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Consumidores Imigrantes e Brasileiros Clamam por Segurança
Para a grande comunidade de imigrantes empreendedores que compõe uma parcela significativa dos comerciantes no Brás, a tragédia no Shopping 25 representa um golpe econômico e emocional. Muitos desses empreendedores construíram suas vidas a partir de pequenos negócios e dependem de suas lojas para sustentar suas famílias. “Como bolivianos, devemos nos regularizar e cumprir as exigências dos bombeiros, ainda mais quando temos centros comerciais. Na Rua Coimbra, ninguém controla, e a prefeitura deveria fazer seu trabalho. Imagine se um restaurante pegar fogo? Quem corre perigo é a própria comunidade, podendo interditar a rua inteira por falta de regularização. A comunidade precisa lançar uma campanha preventiva contra incêndios, já que na Rua Coimbra nada está regularizado, tudo é improvisado e isso é perigoso,” afirmou um boliviano que prefere ser denominado como “A Voz do Imigrante.”
Além disso, os consumidores, incluindo também imigrantes, vêm se manifestando sobre a necessidade urgente de melhorar as condições de segurança nos comércios que frequentam. Para eles, não há apenas a preocupação com a integridade física, mas também com o respeito às normas sanitárias e estruturais básicas. “A maioria dos estabelecimentos comerciais da Rua Coimbra não tem laudo dos bombeiros, é evidente, já que não há sinalização de saída, extintores, nem documentação à vista”, afirmou a boliviana Lilian Galvarro Peña (54), natural de Cochabamba, que mora no Brasil há 52 anos.
“Há muito tempo, não só no Brás, mas também em todo o centro de São Paulo, observamos prédios antigos, alguns até abandonados, sendo reutilizados sem as devidas adequações de segurança,” afirmou o paulistano Vinícius Mendes (34), pesquisador e jornalista. “Tem essa questão do retrofit, que está sendo utilizado em alguns prédios do centro, mas na Rua Coimbra, por exemplo, as construções parecem feitas à revelia da legislação. Duvido que os mapas desses prédios correspondam aos atuais. São reutilizações sem normas de segurança. Dentro da comunidade boliviana, não é diferente: muitos prédios projetados como residenciais se tornaram comerciais com grande fluxo de pessoas, com fiação antiga e estruturas precárias, sem a devida adequação. É uma região muito populosa, com intensa circulação de trabalhadores e consumidores,” concluiu Mendes.
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Associação de Comerciantes da Rua Coimbra no Brás
Questionado sobre os recentes incêndios que afetam a região do Brás, Luiz Vasquez, presidente da ABC (Associação Boliviana do Comércio – Lojistas da Rua Coimbra), afirmou: “Estamos começando a debater sobre o assunto, de fato, é uma preocupação que todos os comerciantes temos. Desejamos ter um seguro contra incêndios, além do laudo dos bombeiros. Mas, como falei, é o início, e já tomaremos algumas medidas.” A declaração de Vasquez indica que a ABC planeja implementar modelos de regularização para os estabelecimentos comerciais fixos da Rua Coimbra, visando a segurança de consumidores e lojistas.
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Ação Necessária e Planejamento Sustentável
O episódio desta quarta-feira deixa claro que, para além da responsabilidade dos proprietários de lojas, as autoridades precisam reforçar a fiscalização e oferecer apoio aos pequenos comerciantes, possibilitando adequações acessíveis e minimizando o risco de novas tragédias. Entre as medidas sugeridas, estão a instalação de sistemas de alarme de incêndio, o reforço das vistorias regulares e a criação de campanhas educativas sobre a importância das normas de segurança.
A tragédia no Shopping 25 evidencia a fragilidade de um sistema comercial que cresceu rapidamente sem as estruturas de segurança adequadas, tornando-se uma área vulnerável para aqueles que a frequentam e nela trabalham. Com o fim de ano chegando e o aumento no fluxo de pessoas, a urgência por medidas corretivas é imperativa. Se as autoridades locais e os próprios comerciantes não tomarem medidas preventivas, o comércio popular no Brás permanecerá à mercê de novos e possivelmente ainda mais devastadores incidentes.