Falta de dólares coloca em risco a realização da votação fora do país, comprometendo os direitos democráticos de mais de 300 mil eleitores da diáspora boliviana.
Publicado • 09/01/25 às 08:24h
Atualizado • 09/01/25 às 17:54h
As eleições presidenciais bolivianas de 2025, marcadas para agosto, estão cercadas de incertezas, especialmente para os bolivianos residentes no exterior. O Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) declarou que a realização do processo eleitoral fora do país pode ser inviabilizada caso o governo não disponibilize os recursos financeiros necessários em dólares. A falta da divisa norte-americana compromete o pagamento de serviços e a contratação de pessoal para garantir a votação em outros países, colocando em xeque o direito de milhares de bolivianos.
De acordo com dados do TSE, nas eleições gerais de 2020, 301.631 bolivianos residentes no exterior estavam habilitados para votar. Para 2025, estima-se que este número seja ainda maior, considerando o crescimento contínuo da diáspora boliviana em países como Argentina, Brasil, Espanha e Estados Unidos. Contudo, o cenário atual aponta para uma ameaça concreta à participação dessa parcela significativa do eleitorado, que tem um papel crucial nas eleições.
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Falta de Recursos: Um Obstáculo à Democracia
A realização de eleições no exterior demanda aproximadamente sete milhões de dólares americanos para cobrir custos operacionais, incluindo transporte, logística e contratação de pessoal. Contudo, a atual crise de disponibilidade de dólares na Bolívia tem sido um obstáculo. Embora o Ministro da Economia, Marcelo Montenegro, tenha assegurado que o orçamento do governo para 2025 inclui os custos relacionados às eleições gerais, o TSE ressaltou que a liberação e a conversão dos recursos dependem de uma resolução urgente da crise de financiamento.
Essa dependência é motivo de preocupação, uma vez que os prazos para a organização do processo eleitoral no exterior estão se estreitando. A demora na alocação de recursos pode comprometer a logística necessária para que urnas sejam instaladas e para que o direito ao voto seja garantido a todos os bolivianos fora do território nacional.
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Importância da Participação no Exterior
O voto dos bolivianos no exterior é uma conquista democrática e um direito constitucional que deve ser garantido pelo Estado. Além disso, os bolivianos residentes fora do país têm um impacto significativo na economia nacional. Segundo dados do Banco Central da Bolívia, as remessas enviadas por essa comunidade representam o terceiro maior ingresso econômico do país, superando, em alguns anos, setores produtivos tradicionais.
Essa contribuição econômica reforça a legitimidade das reivindicações de direitos políticos por parte da diáspora. Muitos imigrantes veem o voto como uma forma de influenciar as decisões políticas que impactam suas famílias e comunidades na Bolívia. O maior número de votantes no exterior estão em, Espanha, Argentina, Brasil e Chile.
Durante entrevista realizada na cidade de São Paulo, o candidato à presidência da Bolívia, Manfred Reyes Villa, afirmou que pressionará as autoridades competentes para assegurar o direito ao voto dos bolivianos residentes no exterior.
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Eleições do Bicentenário: Um Marco Histórico
As eleições presidenciais de 2025, chamadas de “eleições do bicentenário”, são especialmente significativas, marcando os 200 anos da independência da Bolívia. Além disso, elas serão fundamentais para definir os rumos políticos e econômicos do país em um momento de grandes desafios internos e externos.
A exclusão dos eleitores no exterior representaria uma perda não apenas para a democracia, mas também para o próprio governo boliviano, que precisa reafirmar sua legitimidade em um momento de tensões sociais e econômicas.
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Perspectivas e Demandas
O TSE tem enfatizado a necessidade de um compromisso firme do governo para solucionar a questão do financiamento. Organizações de bolivianos no exterior também têm se mobilizado para exigir que seus direitos sejam respeitados. Em países como a Argentina, que abriga uma das maiores comunidades bolivianas fora do país, há movimentos para pressionar o governo e o TSE a encontrarem uma solução viável.
Enquanto isso, líderes políticos e analistas destacam a importância de garantir a participação eleitoral plena como uma medida essencial para fortalecer a democracia boliviana. Sem a inclusão dos votos do exterior, há o risco de enfraquecer a representatividade e a legitimidade do próximo governo eleito.
O tempo está se esgotando para resolver o impasse. Para os milhares de bolivianos no exterior, o voto em 2025 não é apenas um direito, mas uma oportunidade de contribuir para o futuro de sua pátria. Resta ao governo e às autoridades eleitorais agirem de forma rápida e eficaz para evitar que essa parte crucial do eleitorado seja silenciada em um momento tão importante para o país.