A Festa da Alasita & o Ekeko: O Deus Andino da Abundância Mais Paulistano que Nunca

Loading

De tradição ancestral a ícone cultural, a festividade de Alasita ganha força em São Paulo, unindo a comunidade boliviana e famílias brasileiras em celebração à prosperidade.

Publicado • 10/01/25 às 00:25h
Atualizado • 10/01/25 às 01:12h

EKEKO: O DEUS ANDINO DA ABUNDÂNCIA

O Ekeko, amplamente reconhecido no Kollasuyo, era venerado como o Deus da prosperidade e da fortuna. Este personagem mítico foi atribuído como responsável por trazer alegria, fartura e por afastar o infortúnio dos lares aimarás.

.

Ekeko_2

.

Nas ruas estreitas das cidades bolivianas, é comum encontrar barracas que vendem os famosos “Ekekos” – pequenos bonecos de gesso que representam o “Deus da Abundância” da região andina da América do Sul. Popularizado durante a colonização espanhola, a tradição sugere que possuir um Ekeko traz prosperidade e sorte.

.

A Lenda do Ekeko e seu Sincretismo

A figura do Ekeko é especialmente popular no final do ano, quando cada casa deve ter um exemplar entre o “Ano Velho” e o dia 24 de janeiro, período correspondente ao solstício de verão no Hemisfério Sul. Essa data marca uma fusão de celebrações cristãs e pagãs: a festa do Ekeko, associada ao solstício, foi incorporada às comemorações da Virgem de La Paz, na Bolívia, e ao início do ano do calendário gregoriano.

.

.

A efígie do Ekeko é retratada como um homem pequeno, gordinho e bigodudo, muitas vezes segurando um cigarro aceso – um símbolo de riqueza e prosperidade. Ele veste roupas típicas andinas e é representado em estátuas feitas de materiais variados, como pedra, cerâmica, madeira e até prata. Essas imagens são colocadas em locais de destaque nas casas, onde a divindade possa ser reverenciada.

.

As Alasitas: Miniaturas de Desejos

Uma das tradições mais emblemáticas relacionadas ao Ekeko são as “Alasitas”, que, em aimará, significa “compre-me”. Essas miniaturas representam bens materiais ou aspirações que as pessoas desejam adquirir no novo ano.

.

04-Feria_de_las_Alasitas_(La_Paz)-1814418377040_7b4b10e13c_b

.

Os exemplos mais comuns incluem réplicas de dinheiro, malas e passaportes para viagens, carrinhos para simbolizar veículos, e sacos de grãos para garantir abundância alimentar.

A diversidade de Alasitas é impressionante, com detalhes artesanais cuidadosamente produzidos por artesãos bolivianos e peruanos, conferindo autenticidade e valor cultural à tradição.

.

Ekeko: Origens Pré-hispânicas

A veneração ao Ekeko remonta ao período pré-hispânico, com raízes nos antigos aimarás da civilização de Tiahuanaco, que floresceu entre os anos 500 e 900 d.C. Tunupa, o deus da água, do fogo e organizador do mundo, era adorado como responsável por trazer chuva no período de plantio, garantindo colheitas abundantes. Conforme explica Milton Eyzaguirre, do Museu Nacional de Etnografia e Folclore da Bolívia, o culto ao Ekeko pode ter evoluído dessas práticas, vinculando-o à fartura e prosperidade.

.

equico
Em 2014, Suíça devolveu à Bolívia uma estatueta pré-inca que representava ao Deus “Tunupa, ou Ekeko”.

.

A Alasita em São Paulo

A festividade da Alasita foi introduzida em São Paulo em 1991 pela imigrante boliviana Esperanza Francisca Yujra. Desejando compartilhar essa tradição com a comunidade local, ela organizou a primeira edição na Praça Padre Bento, no bairro do Pari, com apenas quatro barracas. Desde então, o evento cresceu exponencialmente.

.

.

Hoje, a Alasita é celebrada anualmente no Parque Dom Pedro II, com mais de 100 barracas e um público de cerca de 35 mil visitantes, incluindo imigrantes latino-americanos e famílias brasileiras. Organizada por associações como ASSEMPBOL e Feira Kantuta, a festividade foi incluída no calendário oficial do município de São Paulo em 2014, consolidando-se como uma tradição paulistana que reflete a riqueza da migração boliviana.

.

.

Uma Tradição Viva

A Alasita, celebrada todo 24 de janeiro, não é apenas uma homenagem ao Ekeko e à abundância; é também um símbolo de integração cultural entre a Bolívia e o Brasil, representando a força e a resiliência das comunidades imigrantes em preservar suas tradições enquanto compartilham sua identidade com novas gerações e culturas.
.

PUBLICIDADE

Compartilhe esta postagem:

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest
Telegram
WhatsApp
Email
Print