Um lugar de acolhimento e transformação que resgata vidas marcadas pela exploração e tece novas histórias de dignidade no Brasil
Publicado • 05/04/25 às 20:55h
Em meio aos desafios enfrentados por imigrantes bolivianos no Brasil, o Instituto Linhas Divinas surge como um farol de esperança. Criado em 2022 pela empreendedora boliviana Maria Nina Siñani, o projeto já acolheu dezenas de vítimas do trabalho análogo à escravidão, oferecendo moradia, apoio psicológico, aulas de português e capacitação profissional. Mais que um abrigo, é um espaço de reconstrução de vidas — um lar onde se costura dignidade.
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Do sonho à exploração
A história de Lizeth Condori e Elias Escobar é parecida com a de muitos. Jovens e cheios de esperança, deixaram a cidade de Cochabamba (Bolívia) em busca de trabalho no Brasil. Grávida do primeiro filho, Lizeth chegou com Elias a Guarulhos (SP), após uma promessa de emprego intermediada por uma agência boliviana.
“No começo, parecia tudo certo, mas logo começaram as proibições. Não podíamos sair nem mesmo para comprar comida. Nos impediam de ir à Rua Coimbra porque diziam que era perigoso, quando na verdade é um ponto de encontro de bolivianos”, relembra Lizeth.
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Uma resposta vinda da dor
A própria Nina viveu situação semelhante ao chegar ao Brasil em 2010. Trabalhou em condições precárias até conseguir abrir sua oficina. Ao perceber que muitas histórias se repetiam, decidiu agir.
“No início, eu só ajudava com orientações sobre documentação e cursos. Depois vi que era preciso mais: dar moradia, ensinar o idioma e, acima de tudo, curar as feridas emocionais de quem foi explorado”, conta Nina.
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Casa e afeto
Hoje, o Linhas Divinas abriga sua terceira turma. São imigrantes que passam de seis meses a um ano vivendo no espaço, até que possam caminhar com autonomia. Cada quarto é equipado com cama, armário, televisão, e a casa conta com áreas de convivência, onde os acolhidos podem assistir a filmes ou simplesmente compartilhar momentos de lazer.
A iniciativa também supre a ausência de políticas públicas eficazes. “Enquanto o processo de regularização demora e custa caro, nós oferecemos o básico: um teto, comida, informação e cuidado”, diz Nina.
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Autoestima resgatada
A boliviana Carolina Balthazar chegou ao Brasil acreditando em uma vaga de trabalho com salário digno. Acabou recebendo menos da metade do prometido e, ao engravidar, foi expulsa da oficina onde vivia com o marido.
“Viemos para a rua com todas as malas. E aqui [no Linhas Divinas] fomos recebidos com carinho. Minha filha agora pode brincar com outras crianças, viver em liberdade. Aqui somos tratados como gente”, diz Carolina com gratidão.
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Transformando estigmas
Para além do acolhimento, o instituto também atua na desconstrução de estereótipos. “Queremos mostrar que a Bolívia é muito mais do que oficinas de costura. Temos profissionais, talentos, sonhos. Podemos chegar aonde quisermos”, reforça Nina.
Com poucos recursos e muito afeto, o Linhas Divinas prova que é possível romper o ciclo de violência e exclusão. Mostra que a força da comunidade boliviana está na solidariedade e na capacidade de superar a dor com amor e ação.
fonte/foto: brasildefato.com.br
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