Com fotografias capturadas por celular, a artista expressa sua conexão ancestral em meio à vida urbana. A mostra está em exibição no Café Colombiano, em Campos Elíseos.
Publicado • 19/09/24 às 00:33h
Atualizado • 02/10/24 às 08:56h
São Paulo, com sua pulsante diversidade cultural, é lar da maior comunidade de imigrantes bolivianos no Brasil. Além de seu reconhecido esforço laboral, essa comunidade transmite uma herança cultural milenar, mantendo vivas tradições de uma das civilizações mais antigas do mundo. É nesse cenário que surge a jovem artista Stephanie Illanes, com sua exposição “Pedaços de Mim”, uma coleção fotográfica singular que explora suas raízes e identidade aimara.
Nascida na capital paulista, mas profundamente conectada às suas origens bolivianas, Stephanie identifica-se como da etnia aimara, uma das culturas nativas mais representativas dos Andes. Graças aos pais, que imigraram da Bolívia e se dedicaram a preservar a identidade andina em solo brasileiro, a artista cresceu envolta em tradições, costumes e uma estética que transcende desde as montanhas e vales bolivianos.
A exposição “Pedaços de Mim” apresenta uma série de fotografias capturadas exclusivamente por um celular, provando que não são necessárias câmeras sofisticadas para expressar a alma artística. Para Stephanie, o ato de fotografar com o celular é uma escolha consciente, que carrega consigo a simplicidade e acessibilidade, mas que, ao mesmo tempo, realça a profundidade de sua visão cultural. “Não precisamos de equipamentos caros para expressar nossa arte”, reflete a artista, valorizando a espontaneidade de seu processo criativo.
.
.
As fotografias da exposição de Stephanie Illanes convidam o público a mergulhar em um universo andino contemporâneo, onde o passado, enraizado na Pachamama, se entrelaça com o presente. Cada imagem captura cenas do cotidiano da artista, ambientadas em um cenário urbano, mas impregnadas de simbolismos ancestrais. Tecidos tradicionais, cores vibrantes, elementos da natureza e gestos simples remetem à rica cultura aimara. Elementos icônicos como o aguayo, a Wiphala e a elaboração da *llajua ganham destaque nas obras, evidenciando a força dos rituais ancestrais. Através de sua arte, Stephanie não só resgata essas tradições, mas as reintegra à metrópole paulistana, que muitas vezes carece dessa conexão ancestral. Ao reconstruir esses símbolos em seu trabalho, ela reforça a presença viva da cultura andina no meio da modernidade de São Paulo, criando uma ponte entre suas raízes e o presente.
* Molho de pimenta
.
“Esta exposição é um grito de liberdade, um grito de… Nós somos lindos, nossa cultura é linda, nossa comunidade é linda. Não temos do que nos envergonhar…”
.
O local escolhido para a exposição, o Café Colombiano, na Alameda Eduardo Prado, 493, no bairro de Campos Elíseos, também reforça a proposta de integração cultural e celebração das tradições latino-americanas. Frequentado por uma vasta gama de visitantes e admiradores da cultura hispano-americana, o café se torna um ponto de encontro e reflexão sobre a riqueza das diversas comunidades que formam o mosaico social de São Paulo.
Além de promover uma reflexão sobre a ancestralidade e a identidade cultural dos povos originários, “Pedaços de Mim” também abre um diálogo sobre as múltiplas formas de arte na era digital, onde a tecnologia se torna uma ferramenta poderosa para contar histórias que atravessam fronteiras e gerações.
A exposição estará em cartaz durante o mês de setembro, sendo uma oportunidade imperdível para quem deseja mergulhar na cultura andina, através do olhar sensível de uma jovem artista que, mesmo imersa em uma metrópole globalizada, carrega com orgulho as raízes de seus antepassados bolivianos.
A história de Stephanie Illanes é uma celebração da identidade boliviana, de sua persistência e força, mas também um exemplo de como a arte pode ser uma ponte entre culturas e um espelho de múltiplas vivências em constante transformação.
.
“Olhares Contra-hegemônicos Sobre a Migração Boliviana”
A galeria de exposições do Café Colombiano também apresenta, em paralelo, o trabalho do fotógrafo Eduardo Schwartzberg, intitulado “Olhares Contra-hegemônicos Sobre a Migração Boliviana”. A exposição explora uma perspectiva sensível sobre a experiência folclórica dos migrantes bolivianos em São Paulo, retratando momentos de identidade em um ambiente urbano. Juntas, as obras de Schwartzberg e Stephanie Illanes enriquecem o espaço com narrativas visuais complementares, destacando a complexidade e a profundidade da diáspora boliviana.
