Exposição fotográfica revela uma Bolívia em São Paulo: Falta de apoio a artistas imigrantes permanece um desafio

Loading

Fotografias em preto e branco destacam a fé, o folclore e a trajetória da comunidade boliviana na capital paulista.

Publicado • 11/11/21 às 21:12h
Atualizado • 15/12/24 às 15:39h

A exposição “Migração Boliviana em São Paulo”, assinada pelo fotógrafo boliviano Eduardo Schwartzberg, esteve em cartaz de outubro a novembro de 2021 no Centro Cultural Penha, no Largo do Rosário. A mostra, composta por fotografias em preto e branco, capturou a essência da religiosidade, do folclore e do papel econômico desempenhado pela comunidade boliviana na cidade de São Paulo.

.

.

Segundo Schwartzberg, a escolha pelo preto e branco, simbolizada pelo termo aymara ch’ixi, tem definição destacada pela teórica boliviana Silvia Rivera Cusicanqui foi quem desenvolveu o termo ch’ixi como conceito para questionar ideias como sincretismo e hibridismo. Com essa abordagem, ela propõe que o passado está intrinsecamente presente no hoje, sugerindo que é possível incorporar o ch’ixi nas identidades e práticas contemporâneas.

O conceito reflete uma justaposição de dimensões de pensamento e consciência, onde o indivíduo reconhece sua condição mestiça, equilibrando tanto seu lado indígena quanto seu lado aculturado ou “branco”. Essa perspectiva desafia narrativas simplistas sobre identidade, valorizando a complexidade e a coexistência de diferentes influências culturais.

“Essas tonalidades expressam sentimentos humanos profundos e intrínsecos, ligados à nossa história, que tem como figura central a Virgem de Copacabana, padroeira da Bolívia”, explica o artista.

.

Um olhar cultural sobre a comunidade imigrante

Leonor Hills, fotógrafa brasileira que também vivencia de perto a cultura boliviana, destaca a força das imagens. Ex-dançarina de fraternidades folclóricas, como as tradicionais danças do Caporales e Morenada, Leonor compartilha seu fascínio pela exposição: “As fotos capturam com precisão a riqueza cultural que eu mesma experimentei. É emocionante ver representada a grandiosidade dessa comunidade”.

.

52381286845_8ab338614d_o

.

Para Dana Laura, jovem descendente de bolivianos, a exposição é um reflexo da sua própria vivência. “Me vejo nas imagens, nos rostos e nos momentos capturados. Essa conexão é profunda, porque representa não apenas uma história cultural, mas a identidade que carrego dos meus pais”.

.

Eduardo Schwartzberg: arte e análise social

Formado em Sociologia pela Universidad Mayor de San Andrés, na Bolívia, Eduardo Schwartzberg une a fotografia ao estudo social. Sua trajetória inclui atuação como fotojornalista no jornal La Razón e publicações em diversos veículos de comunicação na Bolívia e no exterior.

.

.

Seu trabalho integra obras como o livro “Principio Potosí Reverso”, patrocinado pelo Museu Reina Sofía, na Espanha, e foi destaque na Revista de Ciências Sociais da Universidade FLACSO, no Equador, edição 62. Atualmente, Schwartzberg é diretor do jornal La Puerta del Sol, fundado em 2017.

A exposição, além de retratar a fé e o folclore, revela os desafios e as conquistas da comunidade boliviana em São Paulo, oferecendo ao público um convite para refletir sobre a integração cultural na cidade.

A entrevista foi registrada em 7 de novembro de 2021, na Secretaria de Cultura do bairro da Penha, em São Paulo.

.

Falta de apoio a artistas imigrantes permanece um desafio, afirma fotógrafo boliviano

Em 2021, o fotógrafo boliviano Eduardo Schwartzberg chamou atenção para a falta de incentivo às iniciativas artísticas de imigrantes no Brasil. Segundo ele, muitos projetos culturais de estrangeiros enfrentam barreiras, recebendo pouco ou nenhum apoio financeiro para fomentar a produção cultural dessas comunidades.

Passados três anos, o cenário parece não ter avançado. “Em 2024, quase nada mudou”, lamenta Eduardo. Ele critica a concentração de recursos e aponta para uma suposta exclusividade na distribuição de verbas culturais. “Parece haver um ‘grupo de ventríloquos das demandas dos bolivianos’ que monopoliza os incentivos destinados à cultura imigrante, dificultando ainda mais o acesso para artistas independentes”, afirma.

.

Produção artística de imigrantes: o caminho para desconstruir estereótipos e promover a diversidade cultural

Produção de conteúdo artístico ou acadêmico por imigrantes desempenha um papel crucial na eliminação de equívocos na comunicação intercultural. Quando essa produção ocorre sem a participação direta dos próprios imigrantes, o resultado frequentemente gera produtos culturais que, em vez de valorizar a diversidade, acabam por desconstruir identidades migratórias, como a boliviana, reforçando estereótipos prejudiciais à integração social.

Investir em artistas imigrantes é essencial para promover uma cultura de paz através da diversidade. Produtos culturais criados por essas comunidades refletem as culturas vivas tradicionais que agora enriquecem a sociedade brasileira, conectando as raízes dos migrantes às terras tupiniquins e fortalecendo o respeito e a convivência multicultural.

PUBLICIDADE

Compartilhe esta postagem:

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest
Telegram
WhatsApp
Email
Print