Denúncias Contra o Consulado Boliviano Motivam Chegada de Representante de Direitos Humanos – Com Discurso Duplo

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De promessa de punição a parceria: o duplo discurso das autoridades diante dos maus-tratos a imigrantes

Publicado • 23/06/25 às 21:12h
Atualizado • 24/06/25 às 10:00h

A chegada do Secretário de Relações Internacionais da Assembleia Permanente de Direitos Humanos da Bolívia (APDHB), Marco Antonio Ortiz, a São Paulo, gerou expectativa de justiça para a comunidade boliviana, que há anos denuncia abusos no Consulado Geral da Bolívia. Com frases de impacto na chegada ao consulado boliviano na Vila Mariana:
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“se nossas mesmas autoridades estão vulnerando nossos direitos, TEM QUE SER DESTITUÍDOS AUTOMATICAMENTE, aqui não viemos a pedir um favor… já que nossos impostos pagam os seus salários… FUNCIONÁRIO QUE ATENDE MAL FUNCIONÁRIO QUE TEM QUE SER RETIRADO, por que a população boliviana merece uma boa atenção e não merece sofrer mais vulnerações dos seus direitos”.

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“estamos falando que os mesmos negligentes são diretamente os funcionárias do consulado aqui… por que não vão visitar aos outros consulados, para copiar as coisas boas que são feitas nos outros consulados, não as coisas ruins”

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No entanto, o que se viu foi uma abrupta mudança de postura: de críticas contundentes aos funcionários consulares, Ortiz passou a defender uma “nova fase de diálogo” com a cônsul Vania Claros, deixando de lado as denúncias da má gestão do ex-cônsul Bulacios.

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Reunião entre, Marco Antonio Ortiz, Secretário de Relações Internacionais da Assembleia Permanente de Direitos Humanos da Bolívia (APDHB) com Vania Scarley Claros Seleme, Cônsul da Bolívia – Chefe de missão no Estado de SP. – Foto: Bolívia Cultural.

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Denúncias Históricas e a Lentidão da Resposta

Há mais de cinco anos, imigrantes bolivianos em SP vêm alertando sobre irregularidades no consulado: desde a emissão de documentos com valores altos até o tratamento hostil por parte de atendentes. Relatos de famílias que tiveram negado o auxílio a crianças em situação de vulnerabilidade e a falta de transparência na gestão do ex-cônsul Rolando Bulacios foram encaminhados repetidamente a órgãos governamentais na Bolívia, sem resposta efetiva. A exemplo das reivindicações registradas da população imigrante boliviana em Audiência Pública com Rolando Villena, Defensor do Povo da Bolívia em 2015.

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Marco Antonio Ortiz, em entrevista ao Bolívia Cultural na porta do consulado boliviano, antes da reunião com a cônsul Vania Claros, foi enfático: “A assembleia permanente de direitos humanos irá fazer um chamado direto às autoridades bolivianas, que troquem maus funcionários … como assembleia vamos fazer atender estes direitos”. A fala expressou uma postura de busca de justiça perante funcionarios negligentes do consulado boliviano, acudindo ao descontentamento popular, mas, minutos depois, seu discurso mudou para o concilio.

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Do Combate à Conivência: A Virada Inesperada

Em vez de pressionar por investigações ou sanções, Ortiz e Claros anunciaram uma “carta de intenções” para “fortalecer a relação entre o consulado e a comunidade”. O acordo prevê a eleição de um representante de direitos humanos pela comunidade boliviana para mediar futuras atividades – uma solução que, para críticos, “transforma vítimas em mediadoras de seus próprios algozes”, como afirmou uma liderança anônima após a publicação desta matéria .

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Foto oficial do encontro entre, Marco Antonio Ortiz, Secretário de Relações Internacionais da Assembleia Permanente de Direitos Humanos da Bolívia (APDHB) com Vania Scarley Claros Seleme, Cônsul da Bolívia – Chefe de missão no Estado de SP. – Foto: Bolívia Cultural.

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A frase mais simbólica veio do próprio Ortiz: “Temos que olhar para frente e deixar o passado para trás”. A declaração causou revolta entre ativistas, que questionam: “Como ignorar anos de negligência? Isso não é justiça, é apaziguamento”.

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A Desconfiança da Comunidade

Para muitos bolivianos em SP, a parceria entre a APDHB e o consulado soa como um acobertamento. “Era para ele vir cobrar punição, não fazer acordos com quem nos maltratou”, disse uma brasileira esposa de imigrante boliviano. Destaque e ironia da reunião ter ocorrido na mesma sala onde Bulacios, exonerado após pressão das denúncias, comandava uma gestão marcada por descaso.

Enquanto autoridades celebram o “diálogo”, a pergunta que fica é: quem, de fato, está sendo ouvido? A comunidade esperava reparação, mas, até agora, o que se vê é o mesmo ciclo de promessas vazias – agora com o aval de quem deveria combatê-lo.

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Biblioteca boliviana vira depósito: desrespeito ao legado cultural e ao direito à informação

A reunião ocorreu ao lado da Biblioteca Dr. Elio Galarza Garcia, espaço que deveria ser um centro de conhecimento, mas hoje serve como depósito dos equipamentos do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) da Bolívia, usados no “empadronamento eleitoral 2025″ para as presidenciais de 2025. Inaugurada em fevereiro de 2018, a biblioteca — que abriga um valioso acervo jurídico, econômico e literário boliviano, doado pelo renomado advogado que lhe dá nome — foi transformada em armazém, fechada à consulta pública. A cônsul Vania esclareceu que a biblioteca não virou depósito, porem os equipamentos do TSE merecem ser resguardados por segurança.

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Mais do que um descaso administrativo, a situação revela um descaso ao direito à memória e à educação: em vez de promover o acesso à cultura, o consulado enterra livros e documentos sob caixas de aparelhos eletrônicos, negando às gerações atual e futura a oportunidade de conhecer sua própria história. Uma ironia para uma instituição que, em tese, deveria representar e servir à comunidade boliviana — não apagar seu patrimônio intelectual.

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