A crise econômica e a instabilidade política na Bolívia desencadeiam uma crescente intenção migratória, com 45% da população planejando deixar o país, segundo pesquisa. Países vizinhos como Chile e Peru adotam novas restrições para controlar o fluxo migratório, enquanto o Brasil e a Argentina ainda mantêm as normativas do Mercosul.
Publicado • 14/11/24 às 10:35h
Atualizado • 14/11/24 às 11:26h
Na Bolívia, a crise econômica e a instabilidade política, intensificadas durante o governo do presidente Luis Arce Catacora, desencadearam uma forte intenção migratória entre a população.
Uma recente enquete digital realizada pela rádio “Cabildeo Digital” revelou que 45% dos bolivianos consideram deixar o país nos próximos meses, enquanto 19% afirmaram que estão avaliando essa possibilidade seriamente. A pesquisa, conduzida em 12 de novembro de 2024, buscou entender a resposta da população diante do cenário atual, marcado por incertezas econômicas e políticas.
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Este panorama tem causado alarme entre os países da região, que já começam a adotar medidas para conter um possível fluxo migratório descontrolado. O Chile, por exemplo, passou a exigir visto de entrada para cidadãos bolivianos, sendo necessário que o passaporte tenha sido emitido nos últimos seis meses. Além disso, turistas bolivianos devem comprovar recursos financeiros para se manterem no país durante sua estadia, uma exigência inédita que visa conter o número de entradas e garantir a estabilidade social local. O Peru, segundo a Bloomberg, também estuda estratégias para lidar com uma eventual onda migratória, avaliando a criação de políticas que possam gerenciar um aumento repentino de bolivianos na fronteira.
Enquanto isso, o Brasil e a Argentina ainda não implementaram restrições similares e continuam a receber cidadãos bolivianos conforme as normas do Mercosul, que permite a entrada com apenas o documento de identidade de países membros. No entanto, representantes e organizações da sociedade civil em São Paulo já discutem a necessidade de fortalecer estruturas de acolhimento para preparar o estado brasileiro para uma possível nova onda migratória.
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Em reunião realizada nesta quarta-feira (14), na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), Antônio Andrade, fundador do “Bolívia Cultural”, apresentou esses dados alarmantes e destacou a urgência de preparar o estado de São Paulo para o acolhimento digno de migrantes bolivianos. A fala de Andrade foi feita no Plenário Tiradentes, onde se realizou a Reunião do Grupo de Trabalho Interdisciplinar de Direitos dos Migrantes e Refugiados, organizada pela Comissão de Relações Internacionais da Alesp. Andrade alertou sobre o impacto potencial da crise boliviana em São Paulo, enfatizando a necessidade de políticas de acolhimento mais robustas e ágeis.
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Historicamente, a Bolívia enfrenta um êxodo de talentos, com muitos jovens e empreendedores buscando oportunidades em países como Estados Unidos, Argentina, Espanha e Brasil, devido à falta de incentivos e apoio econômico no país natal. Essa “fuga de cérebros” evidencia as dificuldades de desenvolvimento e investimento na Bolívia, enfatizada expressivamente nas ultimas gestões presidenciais, o que pressiona ainda mais os cidadãos a emigrarem em busca de uma vida melhor.
A situação se mostra delicada e pode agravar-se nos próximos meses, caso as condições econômicas e políticas da Bolívia não apresentem sinais de melhora. Além das medidas dos países vizinhos, a Bolívia deve enfrentar desafios adicionais para manter sua população ativa dentro de suas fronteiras, uma vez que, sem perspectivas econômicas favoráveis, o êxodo em massa se torna uma alternativa viável para muitos cidadãos.