Em palestra motivacional, o comunicador e radialista boliviano Iván Cornejo compartilha os desafios e vitórias de sua carreira, incentivando imigrantes a buscar excelência na comunicação além das fronteiras da Bolívia.
Publicado • 14/09/24 às 23:48h
Atualizado • 15/09/24 às 13:54h
Na noite de sexta-feira, 13 de setembro de 2024, um público de comunicadores bolivianos reuniu-se no icônico prédio da CUT (Central Única dos Trabalhadores), localizado no tradicional bairro do Brás, em São Paulo, para assistir à palestra “EL GRAN PERDEDOR”, conduzida por Iván Cornejo, renomado comunicador boliviano. O evento foi organizado pelo Círculo de Comunicadores Imigrantes (CCI) em parceria com a Produtora Eventos Pajarito.
Iván Cornejo, nascido na cidade de Potosí, Bolívia, é uma figura multifacetada no cenário cultural e comunicacional boliviano. Comunicador, radialista, humorista, ator, autor e diretor de teatro, ele compartilhou 31 anos da sua trajetória com o público de imigrantes que busca consolidar-se no competitivo mundo da comunicação fora de suas fronteiras. Em sua palestra motivacional e autobiográfica, Cornejo abordou os desafios e as adversidades que enfrentou ao longo de sua carreira, que começou em 1993 na Rádio San Antonio, no departamento de Potosí.
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Entre histórias pessoais e profissionais, Iván Cornejo destacou como a paixão pelo microfone foi o fio condutor de sua jornada. Embora tenha explorado outras esferas da comunicação, como a televisão e o teatro, foi no rádio que encontrou sua verdadeira vocação. Com uma carreira de sucesso nacional, Cornejo enfrentou inúmeras quedas catastróficas na vida pessoal e profissional, mostrando que esses desafios serviram de alicerce para o seu crescimento. Ele é prova de que os obstáculos são fundamentais na construção do sucesso, o que o projetou no cenário boliviano e além, impulsionado pela ascensão das redes sociais que ampliaram seu alcance internacional.
Um dos pontos mais marcantes da palestra foi a ênfase que Iván deu à importância da leitura e da constante capacitação para comunicadores, especialmente aqueles que, como ele, exercem seu trabalho fora de seu país de origem. Ele ressaltou, no entanto, que a prática cotidiana e o “expertise do dia a dia” são igualmente cruciais para o sucesso. “A chave do sucesso não está apenas no conhecimento acadêmico”, afirmou. “É o que você faz com ele que realmente importa.”
Iván também trouxe à tona sua abordagem editorial peculiar, que foca em casais como eixo central para discutir questões sociais e culturais. Ele acredita que essa perspectiva cria um elo de diálogo que ressoa com o público, permitindo que temas diversos sejam abordados de forma acessível e próxima. “Cada comunicador deve encontrar seu caminho”, disse Cornejo. “Existem comunicadores que conseguem um público de 15 mil a 30 mil pessoas. Eles têm um potencial enorme.”
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Ao longo da noite, os participantes da palestra puderam refletir sobre suas próprias trajetórias e desafios como imigrantes em um novo cenário comunicacional. A fala de Cornejo foi um estímulo para que os comunicadores bolivianos em São Paulo encontrassem sua voz e cultivassem uma prática profissional que transcenda barreiras culturais e geográficas.
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Peça de teatro inédita chega a São Paulo
“Te Amo Pero No Te Soporto” estreia no Teatro Gamaro, trazendo reflexões sobre os conflitos conjugais dentro da comunidade boliviana nos dias 26 e 27 de setembro.
“O boliviano não discute, briga. Acredita estar discutindo, porém está brigando, ferindo-se na procura da razão. Esse é um dos vícios conjugais mais importantes, gerando muitas rupturas e muita dor”, afirma Iván Cornejo. Foi justamente a partir dessa observação sobre os relacionamentos que nasceu a peça de teatro “Te Amo Pero No Te Soporto”, uma produção que aborda os conflitos conjugais e os desafios da convivência. A peça estará em cartaz no Teatro Gamaro, nos dias 26 e 27 de setembro, e promete trazer à tona uma reflexão profunda e dolorosa sobre os desentendimentos que afetam tantas famílias. (Teatro Gamaro – R. Dr. Almeida Lima, 1176 – Mooca, São Paulo – SP, 03164-000). Ingressos e informações – Eventos Pajarito.
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O Consumo de Bebidas Alcoólicas e a Destruição das Famílias Bolivianas em São Paulo: Um Problema Estrutural
O consumo de bebidas alcoólicas dentro da comunidade boliviana em São Paulo tem sido apontado como uma das principais causas de violência familiar, especialmente contra mulheres e crianças. Esse é um problema enraizado na cultura de celebração e nas festas típicas que, longe de promover apenas alegria e integração, muitas vezes resultam em tragédias dentro dos lares. De acordo com o comunicador boliviano Iván Cornejo, que tem se dedicado a trabalhar a temática das relações conjugais, o álcool é o principal catalisador das violências sofridas pelas mulheres, perpetuando um ciclo que atravessa gerações.
Cornejo destacou que esse tipo de violência está profundamente ligado a uma deficiencia de comunicação “o boliviano não sabe discutir o que ele sabe e brigar”, fator inducido principalmente pela cultura machista que ainda prevalece na sociedade boliviana. Sabemos muito bem que muitos homens, ao consumirem álcool de forma excessiva, acabam se tornando mais agressivos e perpetuando comportamentos abusivos dentro de suas famílias. “Acredito que os comunicadores imigrantes devem abordar esta temática com urgência, combatendo esse tipo de violência” afirmou Cornejo.
Em São Paulo, a realidade é agravante. Após datas festivas tradicionais ou finais de semana marcados por grandes encontros da comunidade boliviana, há um aumento significativo nos casos de violência doméstica. Dados preliminares de organizações locais que trabalham com apoio a imigrantes indicam que a maioria das vítimas são mulheres e crianças. Essas instituições têm observado que 95% dos casos de agressão estão diretamente ligados ao consumo excessivo de álcool muitas veces durante eventos sociais da comunidade, como festas familiares, festividades religiosas ou encontros esportivos e culturais.
Segundo dados de organizações de apoio a imigrantes, os casos de violência doméstica nas famílias bolivianas não se limitam aos bairros mais marginalizados de São Paulo. A violência se manifesta em diversas camadas sociais, mostrando que o problema é estrutural e se perpetua através da omissão e da normalização do consumo de álcool em situações familiares. Em muitos casos, as vítimas não denunciam as agressões por medo, vergonha ou dependência financeira, o que torna ainda mais difícil combater essa problemática.
Os efeitos do consumo excessivo de álcool vão além da violência física. Muitas famílias bolivianas enfrentam também a destruição emocional e psicológica, criando um ambiente de insegurança e instabilidade, especialmente para as crianças que crescem em lares onde a agressão é comum. O impacto sobre a educação dessas crianças e adolescentes é igualmente alarmante, uma vez que o estresse constante dentro do lar afeta sua capacidade de socialização.
Cornejo ressalta que, apesar dos esforços de conscientização e campanhas educativas, muito ainda precisa ser feito dentro da própria comunidade boliviana. Ele defende que os comunicadores e líderes imigrantes devem se unir para abordar o tema de maneira mais aberta e direta, utilizando as redes sociais, para disseminar informações sobre os riscos do alcoolismo e as consequências devastadoras da violência doméstica.
A falta de políticas públicas específicas que atendam às necessidades da comunidade boliviana em São Paulo é um fator que contribui diretamente para a perpetuação do ciclo de violência, especialmente contra mulheres imigrantes. Embora existam algumas iniciativas de apoio e acolhimento para essas vítimas, muitas enfrentam barreiras linguísticas e culturais que dificultam o acesso a esses serviços. Uma das soluções propostas para enfrentar essa realidade é a criação da “Delegacia do Imigrante no Bairro do Brás”, um espaço onde os imigrantes poderiam denunciar qualquer tipo de violência no idioma em que se sentirem mais à vontade.
Essa proposta tem sido amplamente defendida por Antonio Andrade, diretor do portal Bolívia Cultural, que vê na criação desse equipamento uma ferramenta fundamental para combater as violências sofridas por mulheres e famílias imigrantes. A delegacia seria um serviço adaptado à realidade da comunidade boliviana, com profissionais capacitados para atender as demandas específicas desses imigrantes, promovendo um ambiente de acolhimento e segurança.
A implementação de uma delegacia voltada para os imigrantes, além de facilitar o acesso à justiça, seria um passo essencial para reduzir os índices alarmantes de violência dentro dessa comunidade. Essa iniciativa contribuiria para a construção de uma rede de apoio mais sólida, garantindo que as vítimas tenham a assistência necessária para sair do ciclo de abuso e reconstruir suas vidas em um novo país.
Por fim, o consumo excessivo de álcool e suas consequências destrutivas nas famílias bolivianas em São Paulo refletem uma questão que vai além das fronteiras. É um problema que exige a mobilização de toda a comunidade, desde os próprios imigrantes até as instituições públicas e privadas. A conscientização, a educação e o suporte psicológico são fundamentais para quebrar esse ciclo, e os comunicadores, como Iván Cornejo sugere, têm um papel crucial nesse processo. Combatendo a violência com informação e promovendo uma cultura de respeito e igualdade, é possível transformar essa realidade e oferecer às futuras gerações bolivianas um futuro mais seguro e próspero.