Tradição milenar andina resiste entre imigrantes em São Paulo, enfrentando barreiras legais e culturais.
Publicado • 11/01/25 às 16:35h
Atualizado • 11/01/25 às 16:59h
Bolívia destaca importância de revalorizar a folha de coca no Dia Nacional do “Acullico“
Nesta quarta-feira, tiveram início as atividades em celebração ao Dia Nacional do “Acullico“, prática ancestral que consiste no mastigado da folha de coca, símbolo de conexão espiritual e cultural dos povos andinos com a “Pachamama“, a Mãe Terra.
O acullico, que há cerca de 8 mil anos faz parte das tradições indígenas andinas, envolve a colocação das folhas de coca entre a bochecha e a mandíbula, frequentemente misturadas com cinzas de cal ou plantas queimadas, dependendo da região. Além de seu significado cultural e espiritual, o coqueo é utilizado como fonte de energia para aliviar a fome, a fadiga e o mal de altitude, conhecido como “soroche”.
.
.
Reconhecimento Cultural e Político
O Dia Nacional do Acullico foi instituído por uma lei boliviana em 2016, marcando o retorno do país à Convenção Única das Nações Unidas sobre Entorpecentes de 1961, com uma reserva especial que permite o mastigado da folha de coca em seu estado natural dentro do território boliviano.
O vice-ministro de Coca e Desenvolvimento Integral Boliviano, Mateo Mamani, destacou a relevância cultural e social da coca, afirmando:
.
“A folha de coca representa saúde, alimento e força de trabalho. Este dia é uma celebração de nossos saberes ancestrais e um chamado ao mundo para respeitar e reconhecer seu valor”.
.
As celebrações incluem seminários e palestras organizados pela Vice-Presidência da Bolívia, além de um mastigado coletivo programado para ocorrer na Praça Murillo, em La Paz, reunindo diferentes setores sociais.
.
Esforços Internacionais
A Bolívia tem se mobilizado internacionalmente para que a Organização Mundial da Saúde (OMS) revise a classificação da folha de coca, buscando sua desclassificação como substância estupefaciente. Em 2022, a OMS iniciou uma análise crítica sobre o tema, liderada por um comitê de especialistas internacionais, com previsão de conclusão em 2024.
Desde junho de 2023, o governo boliviano lançou uma campanha global para divulgar os benefícios da coca em seu estado natural, reforçando seu papel medicinal e cultural.
.
Consumo no Brasil
Embora seja uma prática comum entre imigrantes andinos no Brasil, o acullico enfrenta barreiras legais devido à classificação da folha de coca como substância vinculada à produção de drogas ilícitas. Apesar disso, o consumo pessoal não é considerado crime, mas sim uma contravenção. A despenalização da folha no Brasil encontra entraves devido à falta de distinção jurídica entre seu uso tradicional e a produção de cocaína.
Atividades culturais ancestrais promovidas por coletivos imigrantes andinos, preservam tradições milenares dos povos andinos têm sido mantidas no Brasil e em diversos países ao redor do mundo. Essas práticas representam uma verdadeira resistência cultural, enraizada na cosmovisão andina e amazônica, evidenciando a profunda identidade espiritual dos povos originários sul-americanos.
.
.
Patrimônio Constitucional
A Constituição boliviana, vigente desde 2009, reconhece os usos tradicionais e medicinais da folha de coca, considerada um patrimônio cultural. Apesar de uma parcela da produção ser desviada para o narcotráfico, o cultivo legal foi ampliado de 12 mil para 22 mil hectares em 2017. Relatórios da ONU indicam uma redução de 2% nos cultivos em 2022, evidenciando os esforços do governo em controlar a produção.
.
.
Símbolo de Resistência Cultural
O Dia Nacional do Acullico é uma oportunidade para reforçar a importância de proteger e valorizar o legado cultural dos povos andinos. A folha de coca, muito além de um recurso natural, é um símbolo de resistência e sabedoria ancestral, conectando gerações à Pachamama e à sua rica herança espiritual.