Movimento histórico ganha novo fôlego com seminário em São Paulo e propõe reconstruir o protagonismo político das comunidades migrantes após uma década de estagnação na Câmara dos Deputados.
Publicado • 26/06/25 às 22:07h
Atualizado • 03/07/25 às 09:14h
Na noite desta quinta-feira (26), o auditório do Sindicato dos Bancários, no centro histórico de São Paulo, se tornou palco de um reencontro fundamental para a democracia brasileira: o seminário que marcou a retomada da campanha “Aqui Vivo, Aqui Voto”, em defesa da PEC 347, que propõe o direito ao voto para imigrantes residentes no Brasil.
A pauta — antiga reivindicação dos movimentos sociais de migrantes — voltou ao debate com força simbólica. Durante o evento, a mesa composra por Paulo Illes, coordenador da Rede Sem Fronteiras, e o deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP), reforçaram a urgência de dar andamento à proposta, que está parada há mais de dez anos na Câmara dos Deputados.
.
.
“A PEC 347 representa um passo fundamental na humanização da política migratória brasileira”, afirmou Paulo Illes, em entrevista ao site Bolívia Cultural. “O voto é mais que um direito formal — é o reconhecimento da presença ativa e construtiva dos imigrantes no cotidiano do país.”
.
Uma luta pela cidadania plena
O Brasil é hoje o lar de mais de 1,3 milhão de imigrantes, segundo dados oficiais. Todos vivem, trabalham, pagam impostos e constroem suas vidas em território nacional, mas permanecem excluídos das decisões políticas que moldam suas existências.
A PEC 347 é uma iniciativa do deputado federal Carlos Zarattini e propõe o voto para todas as instâncias para imigrantes residentes há dois anos no país. A emenda constitucional, no entanto, enfrenta resistência por falta de pressão popular — uma ausência que os próprios organizadores reconhecem e buscam reverter.
.
Comitê nacional
Durante o seminário, foi debatida a criação de um Comitê Nacional da Campanha “Aqui Vivo, Aqui Voto”, com a missão de articular ações junto a coletivos, lideranças e organizações migrantes de todo o Brasil. A proposta é fortalecer a mobilização popular e estabelecer um canal direto de diálogo com o Congresso Nacional.
“Esse comitê será construído por e para os imigrantes, e deve refletir a pluralidade das vozes que hoje compõem o Brasil real”, reforçou Illes.
.
Voto como ferramenta de inclusão
A exclusão política dos imigrantes revela um paradoxo: são cidadãos economicamente ativos, socialmente engajados, mas sem representação nas urnas. A aprovação da PEC 347 seria um marco não apenas jurídico, mas simbólico e ético, rumo a uma nação mais justa, diversa e inclusiva.
No seminário, as falas emocionadas de representantes de diferentes nacionalidades deixaram claro que há um desejo coletivo de participação e pertencimento.
A campanha “Aqui Vivo, Aqui Voto” volta à cena política como expressão legítima de resistência e esperança, em um Brasil que precisa reconhecer que seus novos cidadãos já estão entre nós — e querem, como todos, ajudar a decidir o futuro do país que escolheram para viver.