Imigrantes bolivianos mantêm vivas práticas ancestrais e culturais, mesclando rituais espirituais e cábalas populares para atrair prosperidade, amor e boas energias no novo ciclo.
Publicado • 28/12/24 às 14:18h
Atualizado • 28/12/24 às 15:55h
A celebração do Ano Novo, em 1º de janeiro, é uma prática profundamente enraizada na sociedade boliviana urbana, mas assume características distintas nas áreas rurais e, agora, nos novos lares de muitos bolivianos no Brasil. Enquanto na cidade prevalecem as tradições e as chamadas cábalas, no campo essa data tem pouco ou nenhum significado, sendo substituída pelo Ano Novo Andino, celebrado em 21 de junho (cuando comienza un nuevo ciclo agrícola).
Pesquisadores da cultura boliviana explicam que as celebrações de Ano Novo no contexto urbano combinam práticas ancestrais com influências globais, muitas vezes impulsionadas pelo comércio. No Brasil, a comunidade boliviana mantém vivas algumas dessas tradições, ao mesmo tempo que as adapta ao contexto local.
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Tradições culturais que marcam o Ano Novo
1. La K’oa
Uma oferenda à Pachamama (Mãe Terra) e aos espíritos tutelares, expressa gratidão pelo ano que termina e pedidos para o novo ciclo. É um ato de reciprocidade e fé, profundamente enraizado na cosmovisão andina.
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2. Leitura de metais
Praticada para “ver a sorte”, essa tradição ajuda a interpretar o futuro através de rituais simbólicos, especialmente em celebrações importantes, Isso permitirá saber o que o espera no futuro. Lembre-se que nestas festas, consideradas grandes, a leitura dos metais é uma tradição.
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3. Visitas e unidade familiar
Compartilhar momentos com familiares e amigos é considerado essencial, reforçando os laços de solidariedade e comunidade.
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4. Rituais de purificação
A prática da “limpia” purifica o corpo e o lar, afastando más energias e abrindo espaço para vibrações positivas. Pode ser realizada por um yatiri (curandeiro) ou pelos próprios moradores em suas casas, realizando uma faxina geral na casa.
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Cábalas e crenças populares
Embora não sejam originárias da cultura boliviana, algumas práticas se popularizaram por meio do contato com outras culturas e são amplamente adotadas:
5. Subir escadas
Simboliza progresso e sucesso no ano que se inicia. Alguns carregam dinheiro ao subir, acreditando atrair fortuna.
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6. Roupas íntimas coloridas
O amarelo representa prosperidade, o vermelho, amor, e o branco, paz e espiritualidade. A troca ocorre exatamente à meia-noite.
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7. Malas de viagem
Preparar uma mala e caminhar pela casa à meia-noite simboliza o desejo de viajar no ano seguinte, seja por lazer ou negócios.
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8. Uvas da sorte
Consumir 12 uvas à meia-noite, com um desejo para cada mês, é uma prática de origem espanhola que simboliza a prosperidade.
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Outras práticas e simbolismos
Na Bolívia e entre os bolivianos no Brasil, algumas superstições específicas também ganham destaque:
• Carne de porco:
Associada à prosperidade, simboliza avanço contínuo. Comer frango é evitado, pois é visto como retrocesso.
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• Queima de objetos antigos:
Simboliza deixar para trás o que é negativo e abrir espaço para novas oportunidades.
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• Velas coloridas:
Cada cor tem um propósito específico, como atrair amor, saúde ou prosperidade.
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• Pular sete ondas no Mar:
Uma das tradições mais conhecidas para trazer sorte no ano novo é a de pular 7 ondas na praia. A crença indica entrar no mar à 00h e saltar sete ondas enquanto faz sete desejos. Após dar os pulos e fazer os pedidos, é necessário sair do mar sem dar as costas para a água.
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• Boa Sorte:
Em algumas culturas, a cor branca é associada à sorte e prosperidade. Vestir branco é visto como uma maneira de atrair boa sorte e energias positivas para o ano que se inicia.
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Ano Novo Andino e rural
Nas áreas rurais da Bolívia, a data do calendário gregoriano tem pouca relevância, sendo o Ano Novo Andino, celebrado em 21 de junho, a verdadeira marca de renovação. Essa data coincide com o início de um novo ciclo agrícola e é comemorada com rituais dedicados à Pachamama.
Integração cultural no Brasil
Entre os bolivianos residentes no Brasil, a celebração de Ano Novo é uma oportunidade para reforçar suas tradições, compartilhá-las com outros imigrantes e brasileiros, e adaptar práticas culturais a um novo contexto. Assim, os preparativos para receber 2025 refletem a esperança por um ano repleto de prosperidade, união e boas energias.